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  • Melannie Silva e Nathalie Rodrigues

Os efeitos da pandemia: o agravamento da insegurança alimentar no estado de São Paulo

A diminuição da renda, alta inflação e a baixa dos estoques públicos de alimentos estão entre os principais motivos do aumento da insegurança alimentar entre a população mais carente, na região metropolitana de São Paulo "eu não sei o que vai ser da gente se os preços não abaixarem".


Por Melannie Silva e Nathalie Rodrigues


[Divulgação / Banco de Imagens - Pexels - Markus Spiske]

A fome e quadros de insegurança alimentar são problemas recorrentes no cenário brasileiro. Com a crise sanitária causada pelo Coronavírus, este quadro se agravou, principalmente na região metropolitana de São Paulo, devido ao alto custo de vida.


O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em uma nota publicada para imprensa em 6 de maio, a capital paulista apresenta o maior valor de cesta básica, chegando a R$803,99, o que representa quase 72% do salário mínimo ou cerca de 146 horas mensais de trabalho.


Um dos fatores que levaram ao aumento do preço dos alimentos foi a diminuição progressiva dos estoques públicos de alimentos, ao longo dos últimos dez anos. Segundo dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), no período de 2012 a 2013, os estoques de arroz chegaram a 471.730 toneladas. O preço médio do pacote de 5kg era R$7,50. Ao comparar o mesmo período nos anos de 2021 e 2022, os estoques foram reduzidos para 113.468 toneladas e o pacote de 5kg saltou para R$15,00.


A importância da Nutrição


Em 2021, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), cerca de 116,8 milhões de pessoas estavam em algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). Entre elas, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes para suas necessidades e cerca de 19 milhões de brasileiros tiveram que conviver com a fome.


Eléa Freitas, nutricionista na UBS do Jardim Colombo, São Paulo (SP), relatou para o Central Periférica, que com a pandemia, houve um aumento de queixas sobre a dificuldade de acesso aos alimentos por questões financeiras. Outro problema é trazer as pessoas para os consultórios. Segundo Freitas, apesar da alta demanda, as pessoas com doenças crônicas, que necessitam de atendimento, são mais resistentes "esses pacientes precisam ser praticamente ‘laçados’, para passarem em uma nutricionista".


Como as pessoas têm lidado com esta situação


A alimentação deve ser suficientemente nutritiva. A deficiência de vitaminas e minerais podem levar a sérios problemas de saúde e até a morte, em casos extremos de desnutrição. Em caso de dificuldades econômicas, o que a nutricionista indica é buscar comprar as hortaliças em feiras livres, "o final da feira sempre tem promoção", aponta Eléa. É possível obter as folhas das verduras que geralmente as pessoas não querem levar, como por exemplo, as folhas de beterraba ou de couve que seriam jogadas no lixo, mas que podem ser consumidas. Inclusive, é possível se cadastrar na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) para receber essas hortaliças.


Outra boa alternativa são as hortas comunitárias de pequenos produtores. A proximidade entre os produtos e os consumidores barateia o preço final e garante o consumo de alimentos sem agrotóxicos. Eléa menciona que se as políticas públicas das hortas comunitárias já estivessem melhor instituídas antes da pandemia de COVID-19, as pessoas não teriam passado tanta dificuldade, “isso devia ser priorizado pelo governo e incentivado pela comunidade”.


O relato de quem vive essa realidade

Na ausência do governo, o aumento de projetos que distribuem cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade tem garantido a alimentação de milhares de famílias. Zuleide da Silva, diarista e coletora de materiais recicláveis, disse para o Central Periférica, que com a pandemia ela passou a trabalhar menos como diarista e isso reduziu a renda familiar "[a maior mudança foi] financeira, vida financeira, desemprego, muita gente querendo trabalhar, mas não tem emprego, antes [da pandemia] era tudo mais fácil, antes, agora não". Zuleide diz ainda que as cestas básicas doadas pela igreja da comunidade onde mora é o que tem garantido as refeições da família: "se fosse para eu comprar sozinha, não teria condições. Eu não sei o que vai ser da gente se os preços não abaixarem".


A equipe do Central Periférica visitou a Cáritas, uma instituição ligada à Igreja Católica, que assiste famílias em situação de vulnerabilidade social. Afonsina Silva, presidente voluntária da Cáritas e Cleide Souza, assistente social, disseram em entrevista que a missão inicial do projeto era oferecer cursos profissionalizantes, mas desde 2018 eles enxergavam a necessidade de oferecer assistência direta. Atualmente, a Cáritas oferece suporte para mais de 1800 famílias concentradas em cinco comunidades da periferia de Guarulhos e conta com uma parceria com o banco de alimentos da prefeitura para distribuição de alimentos próximos a data de validade que são recolhidos em supermercados.


Doações enviadas pelo Banco de Alimentos [Imagem: Melannie Silva]

Ao serem questionadas sobre como a pandemia afetou a distribuição de cestas básicas, elas relataram que, além do aumento de pessoas pedindo doações, o público agora são também famílias que não costumavam necessitar de assistência “a pandemia deixou muita miséria, muita fome, as pessoas estão com fome” aponta Cleide.

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