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Sono e trabalho nas periferias

Qualidade de sono dos trabalhadores é prejudicada pela distância e pelo tipo de trabalho


Julia Ayumi Takeashi e Tulio Gonzaga Shiraishi


A qualidade do sono é um dos grandes problemas enfrentados pelos trabalhadores periféricos [Imagem: Wikimedia Commons]


A rotina de trabalho dos moradores das periferias normalmente é exaustiva. Além do tipo de trabalho, que pode exigir mais esforço físico ou mental, o tempo de deslocamento é um obstáculo para ter momentos de descanso. Ainda que pesquisas demonstrem que é saudável dormir um mínimo de 5 horas seguidas, muitos brasileiros não têm a escolha de priorizar o sono e abdicam dessas horas para trabalhar e sobreviver.


O eletricista Michel Luiz, de 41 anos, reside no Rudge Ramos, bairro de São Bernardo do Campo. Ele diz gastar quase 1h30 no deslocamento para seu trabalho, no Jabaquara, na capital paulista. A superlotação e o preço elevado no transporte impedem uma qualidade de vida melhor, segundo ele: "Tudo isso estressa a gente, o cansaço acumula. E aí, como descansa?", questiona.


"Se eu tivesse mais tempo, com certeza aproveitaria com a minha família e dormiria mais. Mas a gente tem que primeiro garantir que a família sobreviva, né?", completa.


Michel ainda relembra de quando morava na Zona Leste e precisava equilibrar dois empregos para sustentar sua mãe: "Em 2002, eu trabalhava ali na Colgate, perto de Osasco. Saía de casa às 04h30 para entrar 07h30". Atualmente, o tempo médio gasto em deslocamentos diários entre paulistanos que moram na Zona Leste é de 3 horas e 3 minutos, segundo a pesquisa Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana, da Rede Nossa São Paulo.


Gustavo Moreira, médico do Instituto do Sono, explica que a ausência do sono saudável, como as interrupções no sono, pode gerar problemas de concentração e de memória e o comprometimento das habilidades físicas, sobretudo para quem trabalha na construção civil.


Entre os trabalhadores periféricos, Gustavo comenta que a obesidade e a apneia do sono são umas das principais doenças acometidas pela falta de sono, com destaque para as mulheres. Aquelas acima dos 50 anos, propensas à menopausa, sentem mais os impactos da sonolência diurna, por exemplo.


Ao dormir menos, a pessoa tende a produzir e liberar mais o hormônio do apetite, a grelina. O motivo para que isso aconteça é a redução do hormônio da saciedade, a leptina, devido ao sono limitado. “Desenvolver a apneia do sono e dormir pouco é uma tempestade perfeita, são coisas que se somam e vão aumentando a chance da pessoa encarar mais problemas", afirma o médico.


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