Formado na Zona Leste de São Paulo, o coletivo de drag queens periféricas Acuenda, do bairro Jardim Romano, é um espaço plural para a arte e para os debates
Por Bárbara Bigas e Beatriz Pecinato
Do cabaret “Nosso Corpo é Político” [Foto: Facebook do Coletivo Acuenda]
No final de 2013, Bruno Fuziwara, também conhecido pela sua persona drag Dhiana d’Água, começou a se montar como drag e sugeriu para seus amigos que eles também se montassem e fizessem um cabaré. Assim teve início o Acuenda.
“O mote principal foi o desejo de estar como drag, de entender como era, e depois, de como a gente levaria isso para as pessoas. A gente foi descobrindo também que a figura da drag aproxima muito as pessoas. Ela é comunicativa, colorida, e acaba quebrando uma barreira que, se a gente fosse conversar “limpa” – sem maquiagem –, talvez as pessoas não quisessem conversar”, conta Bruno.
Os Cabarés, presentes desde o início do coletivo, abordam pautas sociais e raciais, a exemplo do cabaré “Nosso Corpo é Político”, e ambientais, como “As vozes do Brasil”, que discute a preservação da Amazônia. Esses espaços promovem a expressão artística das drag queens mas também levam conhecimento e informação aos moradores do entorno, que são contemplados nas atividades do coletivo.
Crianças acompanham entusiasmadas o processo de montagem das drag queens. [Foto: Facebook Coletivo Acuenda]
O M.A.P.A D
Para além da alegria e do entretenimento, o coletivo realiza concursos, apresentações teatrais e também ações para a formalização do trabalho das drag queens paulistas, como por exemplo o Mapa Drag do Brasil. Originado a partir de uma ideia de Bruno, o M.A.P.A D - Zona Leste em Registro — da sigla “Mapeamento e Articulação na Periferia de Artistas Drags”, o M.A.P.A D – tem como objetivo mapear as drag queens da capital paulistana e região metropolitana e registrá-las em um site, de forma que pessoas interessadas consigam encontrar seus serviços e atividades com mais facilidade. O lançamento do projeto acontecerá em novembro.
Segundo seu criador, o M.A.P.A D, será o primeiro do Brasil a fazer um registro de drag queens, começando pelas artistas da Zona Leste, região em que o coletivo atua, depois será expandido para o Alto Tietê até chegar na Zona Sul. O Coletivo tem planos de que, no futuro, o mapeamento também seja feito em nível nacional.
“É importante a gente falar de quem veio, mas é importante a gente falar de quem está hoje movimentando a arte drag no Brasil”, diz Bruno sobre a relevância de criar um registro para essa classe artística na atualidade.
Tornar esse trabalho conhecido e valorizado também passa por um processo de mudar o imaginário envolvendo a arte drag: ela também pertence a um local político e artístico, de refletir sobre a realidade e propor mudanças para ela: “Nosso lugar não é a noite paulistana, nosso lugar também é o teatro. Não são só shows em boates, também estamos no teatro", comenta David Costa, também integrante do Acuenda. Bruno complementa: “A drag é uma multiartista”.
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