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Projeto social e times de várzea organizam ação na Cracolândia

Iniciativa “Craco Resiste” e equipes amadoras de São Paulo promovem futebol de rua para dependentes químicos na região central da cidade


Por Alex Amaral, Davi Caldas, Diego Coppio, Felipe Bueno,

Guilherme Ribeiro, Julia Teixeira, Júlio Silva e Matheus Bomfim


Provavelmente você já ouviu falar sobre a Cracolândia. Seja na televisão, na rádio ou na internet, ela é uma frequente pauta nos noticiários de São Paulo. A repressão policial contra o dito “fluxo” sempre foi uma medida adotada pelos governantes. Por outro lado, existem movimentos que buscam reabilitar os dependentes químicos da forma mais humana possível. Esse é o caso do projeto “Craco Resiste” que, junto aos times Rosanegra e União Lapa, visa recuperar a dignidade dessas pessoas.


Como surgiu a Cracolândia?

A região da Luz, no centro de S. Paulo, antes frequentada pela elite paulistana, tornou-se um dos locais mais carentes da cidade entre os anos 1980 e 1990. Após o abandono da classe mais alta e o fechamento do comércio local, os arredores do bairro foram ocupados rapidamente por pessoas em situação de rua.


Com a chegada do crack ao Brasil nos anos 1990, o nome “Cracolândia” se popularizou e o entorno da Luz se fortaleceu como um grande ponto de venda e consumo do crack e de drogas como maconha, cocaína e cola. Diferentemente de outras drogas, o crack tem um efeito muito forte e rápido, o que gera o vício e consequentemente, a dependência. Como sua ação dura de 10 a 15 segundos, é comum que o usuário tenha o desejo de sentir com frequência a euforia provocada, o que faz com que ele fique preso no local onde a droga é oferecida e, com isso, a presença de pessoas se tornou maior nessa região da cidade.


Com o passar dos anos, houve muitas estratégias utilizadas para acabar com a Cracolândia. Entre elas, a mais utilizada — e menos eficiente — é a repressão policial. A guerra contra as drogas e a desumanização leva governantes a concederem carta branca aos policiais para repreensão e agressão aos frequentadores do fluxo.


A estratégia ineficiente acaba cultivando o preconceito e mau trato a essas pessoas, corroborando para o aumento da violência no centro paulistano. A única consequência é a dispersão do fluxo, o qual logo volta a se concentrar em algum novo ponto nas proximidades, trazendo mais problemas e instaurando a insegurança em moradores e trabalhadores.


O futebol como forma de escuta

O movimento “Craco Resiste” veio para lutar contra a repressão e pela integração dessa população. Nascido em 2016, o grupo luta contra a violência policial usada na Cracolândia e para auxiliar dependentes na luta contra o vício. O olhar humanizado dos criadores do projeto integra o futebol à rotina dos frequentadores dos fluxos, com o intuito de oferecer lazer aos usuários.


Opondo-se aos métodos utilizados pela esfera pública, o “Craco Resiste” é visto por especialistas como um movimento de extrema importância. Com uma abordagem positiva, o projeto leva um olhar humanizado ao espaço de pessoas que são constantemente tratadas com desrespeito e repreensão.


Camila Góes é integrante do coletivo “Rosanegra”, um time de várzea que se autodenomina “misto, abaixo e à esquerda” e, em conjunto com o “União Lapa”, participam coletivamente das ações promovidas pelo “Craco Resiste” para realizar ações sociais por meio do futebol. Ela conta que o convite para a integração surgiu por parte da “Craco Resiste” e que, com grande comunicação, eles puderam planejar uma forma genuína de ambos os movimentos — quem tem muitas bases em comum — realizarem essa ação em conjunto.


A ação acontece todas as quintas-feiras e tem uma duração de duas horas, as quais são suficientes para proporcionar lazer a quem está acostumado a ser tratado com tanta repressão. Camila ressalta que a importância do projeto também está na sua troca com as pessoas que ali residem, contando que o local acaba sendo um lugar de muita proximidade com os frequentadores. “Nós levamos a possibilidade de realizar um futebol de rua e deixamos aberto para quem quiser participar dessa troca, seja de experiências ou apenas para conversar sobre a vida. O futebol é algo que traz união, por ser um ponto em comum para várias pessoas, pode ser o princípio desta troca”, diz a integrante do coletivo “Rosanegra”.


Ela conta que a repercussão e o reconhecimento do projeto é bastante positivo. Os próprios frequentadores do fluxo e outros coletivos as reconhecem como “as meninas do futebol”. Porém, ultimamente a presença delas não tem agradado a todos. “Toda quinta-feira que nós vamos jogar, os policiais ficam na rua em que o futebol é feito. Já houve até intervenções que a polícia fez, dizendo que o grupo não podia jogar futebol na rua porque o local era público”, diz Camila.


“Eu não sinto que exista tantos problemas como eu pensava. Agora conhecendo o território e vendo aquele lugar, vejo um bairro que acontece de tudo, coisas boas e ruins. Nunca sofremos qualquer tipo de violência pelos moradores do fluxo. Os problemas que mais nos atrapalham ocorrem pela ação policial e, em paralelo, a falta de verba”, comenta Camila ao ser questionada sobre situações negativas que o grupo já sofreu fazendo essas ações.


Um olhar diferente para a situação da Cracolândia

De acordo com Camila Góes, os principais objetivos do projeto são a troca, o cuidado e a escuta, a prática do futebol, é apenas uma motivação para que tudo isso seja colocado em prática.


Vale ressaltar que a dependência do crack, além de química, também desencadeia patologias psicológicas. Muitos especialistas no assunto condenam ações como internação compulsória e a utilização de violência no trato com essas pessoas. Além de serem ineficientes no tratamento contra o vício, potencializam os riscos à saúde mental dos indivíduos, que, muitas vezes, já é prejudicada por diversos problemas sociais enfrentados ao longo da vida. O olhar para esta causa também é fundamental na busca pela reabilitação dessas pessoas.

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