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Patrick Fuentes e Sebastião Moura

Os caminhos que levaram à Perifacon

Atualizado: 26 de nov. de 2020

PerifaCon é um evento de cultura nerd que ocorre nas periferias de São Paulo


Por Patrick Fuentes e Sebastião Moura


[Imagem: Divulgação/ PerifaCon]

No dia 24 de março de 2019, foi realizada a primeira edição da PerifaCon, evento de cultura nerd voltado ao público da periferia, realizado no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. O evento foi concebido entre 2017 e 2018, fruto do desejo dos organizadores de levar a experiência de eventos como a CCXP (Comic Con Experience) para o público de periferia, que consome cultura nerd mas tem uma série de barreiras financeiras e de locomoção para frequentar esses espaços.


De acordo com Igor Nogueira, formado em design e um dos criadores do evento, um dos maiores obstáculos foi o distanciamento da indústria de entretenimento do público periférico. “A periferia consome muita cultura geek, mas é barrada de ter a experiência continuada que acontece nesse tipo de evento. Ela assiste o filme mas não tem a oportunidade de conhecer o diretor, o produtor, de vivenciar uma experiência focada nesses interesses”, ele comenta.


Comparando-a com a CCXP, a própria proposta atípica da PerifaCon foi surpreendente aos olhos dessa indústria. Enquanto a primeira, em 2019, colocou cerca de 70 mil pessoas por dia na São Paulo Expo, a PerifaCon atraiu cerca de 4 mil pessoas para ocuparem a Fábrica de Cultura do Capão Redondo, onde o evento foi realizado. Tudo isso de forma gratuita para o público.

“O evento foi construído coletivamente de uma forma que deu muito certo e a gente se surpreendeu com a legião de pessoas que esperavam por um evento como esse”, afirmou Igor.

Ele conta que para conseguir os fundos necessários para a produção da feira, a organização começou com uma campanha de financiamento coletivo que arrecadou 8.000 reais, quatro vezes a meta inicial. O dinheiro foi usado para produzir cartazes, bottons e camisetas cujo lucro da venda, somado ao patrocínio de última hora da Chiaroscuro Studios, pagaram os custos de cerca de 30 mil reais do evento.


Outros apoios vieram na forma de parcerias que cobraram mais barato por recursos como material gráfico, equipamento audiovisual, mesas e cadeiras, além

de vários convidados que não cobraram nada para participar dos painéis, que contaram com nomes de peso como os rappers Rashid e KL Jay e o quadrinista Marcelo D’Salete.


Beco dos Artistas: democratização e inclusão

Parte significativa dos custos veio de garantir o compromisso com os ideais de democratização do acesso que a equipe tinha em mente: o evento foi 100% gratuito, não só para os visitantes mas também para os artistas que foram lá vender seus trabalhos e interagir com o público.“A gente entende que cobrar o espaço das pessoas é um fator exclusório e de segregação, por isso não cobramos nada, inclusive houveram vários artistas que estavam lá expondo pela primeira vez na vida e hoje tão fechando parcerias com marcas grandes”, Igor comenta.


Além disso, outra pauta importante para eles foi a realização de uma curadoria que reservou de parte das vagas para pessoas da própria região (a zona sul, no caso), buscou a inclusão de raça, gênero e sexualidade e analisou os portfólios para evitar a participação de pessoas com trabalhos machistas, LGBTfóbicos ou racistas. “Como artista periférica, é muito importante ver que tem espaço para mim, onde não é de uma maioria branca, e me ver representada em trabalhos e com o próprio público. Dar a chance de pessoas marginalizadas consumirem cultura pop é mostrar que ela também pode produzir cultura pop”, contou Flávia Sousa, quadrinista e ilustradora que participou do evento.


A PerifaCon também foi comparada com outras convenções de quadrinhos com propostas inclusivas, como a Poc Con: “Ambas foram criadas pensando nessa necessidade de tornar o ambiente nerd um local inclusivo e tiveram resultados impactantes de público, extrapolando as expectativas, causando filas que dobravam ruas. Acho que é a sensação de se encontrar, de se ver mesmo, num espaço que não costuma ser pensado pra você frequentar. E de ver que o número de pessoas que se interessam pela mesma coisa que você é enorme, de que você tem uma comunidade para ser acolhido”, relatou Amanda Miranda, designer e quadrinista.


A segunda edição da PerifaCon, que seria realizada nos dias 6 e 7 de junho desse ano, na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, foi cancelada por causa da pandemia, mas os organizadores pretendem retomar o evento assim que for seguro.


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