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  • Melannie Silva

Além da Bienal: a produção literária nas periferias

Conheça a Câmara Periférica do Livro, associação de 29 editoras exclusivamente voltada para a produção de autores das periferias do Brasil.


Por Melannie Silva (melanniesilva@gmail.com)


Estande da CLP na Feira do Livro 2022 [imagem: arquivo pessoal/Melannie Silva]


A Bienal do Livro de São Paulo, maior evento literário do país, ocorreu de 2 a 10 de julho e reúne leitores, editoras e autores em sessão de autógrafos e rodas de debate sobre literatura. O evento tem como objetivo propagar e democratizar o hábito da leitura na sociedade brasileira, mas a pergunta que fica é: para quem é a Bienal? Tanto a programação cultural do evento, quanto os expositores não contemplam a produção literária periférica.

Ruivo Lopes, pesquisador e autor do Perfil das Editoras e Selos Editoriais das Periferias, publicado pela ONG Ação Educativa, em entrevista para o Central Periférica comenta sobre os desafios da produção literária das editoras periféricas.


A história da Câmara Periférica do Livro


A Câmara Periférica do Livro (CPL) é uma rede responsável por articular 29 editoras e selos editoriais provenientes de periferias espalhadas pelo Brasil. Segundo Ruivo, o nome nasceu para fazer um contraponto à Câmara Brasileira do Livro, ou que ele chama de “circuito oficial” do livro direcionado às classes mais abastadas. A CPL tem como objetivo fortalecer a produção independente, tornando possível que autores periféricos publiquem seus livros por um valor acessível, sem precisar se vincular a grandes editoras, que dificilmente teriam espaço para essas obras, ou a rede de e-commerces, como a Amazon.

Esse movimento literário surgiu com os saraus. “No início essas expressões culturais estavam muito ligadas ao universo do hip hop. Começa aparecer uma vertente nos anos 2000 articulada com a literatura, alguns grupos faziam rimas a capela”, afirmou Ruivo. O surgimento do Sarau Cooperifa fez com que muitos autores e poetas se juntassem e formassem suas antologias.

Ruivo ainda destaca que antes desse movimento, a produção periférica ficava restrita a quem frequentava os saraus e com a publicação em papel, público exterior às periferias pode ter contato com essa literatura, “nós fechamos o circuito literário proposto pelo professor Antonio Candido. A literatura é formada por um sistema que envolve autores, editores e leitores e até então esse sistema só compreendia escritores e um público leitor elitizado. Nós formamos autores e criamos uma cena de leitores e leitoras nas periferias.”


O perfil das publicações


Os autores criaram suas próprias iniciativas editoriais como forma de serem publicados e atingirem o seu público. Isso garantiu uma grande diversidade de pessoas e publicações dentro dos selos editoriais. De acordo com a pesquisa “Perfil das Editoras e Selos Editoriais das Periferias”, 23% das publicações tem foco em literatura negra, 12% em literatura feminista e quase 8% dos títulos tem foco no publico LGBTQIA+; 42% dos administradores são mulheres e até 66% das editoras já esgotaram algum titulo do seu catálogo.

De forma geral, o intuito das publicações não é gerar lucro, mas sim promover a cultura. Os livros são vendidos na faixa de 15 a 45 reais, para custear a produção e garantir a publicação do próximo título. O mercado editorial brasileiro vem enfrentando dificuldades, o preço do papel aumentou até 65% nas gráficas o que eleva o custo de produção do livro, especialmente em editoras pequenas, que possuem tiragens menores, por volta de 100 a 500 exemplares, enquanto que editoras maiores tem tiragem mínima de 10 mil livros. Ruivo explicou que o apoio de projetos governamentais de fomento à cultura e ao empreendedorismo, como o programa Vai, são fundamentais para manter o funcionamento dos selos. A cadeia do livro é grande, a publicação de um título envolve editores, revisores e design gráficos até o material final ser enviado para impressão.

Os livros geralmente são vendidos em eventos literários, nas páginas online das próprias editoras ou diretamente para bibliotecas e escolas públicas. Ruivo inclusive lamenta que a CPL não poderá estar presente na Bienal, devido ao alto custo de manter um estande no evento. “É muito difícil acessar o alto circuito do livro, há muito investimento em marketing e propaganda, nós não temos esse dinheiro nem para a publicação, por isso nossos livros não aparecem nos editoriais de cultura da grande mídia", afirma.


O que é a Ação Educativa?


[Imagem: Ação Educativa / Redes sociais]


A Ação Educativa é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1994, com objetivo de promover ações sociais, no campo da educação, da juventude e da cultura. A ONG realiza pesquisas, têm atuação política, cursos de formação profissional e educacional, além de projetos que promovem o acesso à cultura.

Para conhecer mais sobre o projeto, acesse o site da Ação Educativa.


As editoras da CLP


Academia Periférica as Letras - Ação Educativa - Asociação Cultural EMBUcaasARTES - Baderna Literária - Borboleta Azul - Ciclo Continuo ditorial - Ediuções do Burro - Edições do Sarau do Binho - Edições do Tiête - Ediçoes Me Parió Revolução - Edições Mijiba - Edições PB - Edições Suburbano Convicto - Editora Akasha - Editora Alquimia - Editora Areia Dourada - Editora Benfazeja - Editora Cosmos - Editora Dandara - Editora e Gráfica Heliópolis - Editora Filoczar - Editora Letras Periféricas - Editora LiteraRua - Editora Popular Txai - Elo da Corrente Edições - Kitembo Edições Literárias - Selin Trovoar - Selo Capsianos - Vicença Editorial.


Juntas as editoras já publicaram 388 títulos de ficção e não ficção, sobre diversos temas como: afrofuturismo, feminismo, poesia, educação, sociopolítica, pesquisas entre outros.

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