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  • Lorena Corona

A superação de barreiras através do esporte

Ainda que no país não haja grandes investimentos na área esportiva, é possível ver diversos atletas brasileiros nos mais altos patamares do universo do esporte


Por Lorena Corona


Por Lorena Corona


É o sonho de inúmeras crianças se tornarem grandes atletas, reconhecidos nacional e internacionalmente. Ao verem, por exemplo, Cafu, vindo de uma família humilde da zona sul de São Paulo, se transformar em um dos mais importantes jogadores de futebol do Brasil, com recorde de participações em Copas do Mundo pela seleção, a esperança de ter uma vida melhor, proporcionada pelo esporte, cresce na mentalidade dos jovens da periferia.


Entretanto, nem tudo é um mar de rosas. Dentre os atletas que conseguem ascender socialmente e realizar grandes conquistas, poucos são apresentados pela mídia com a importância que deveriam ter. No caso da esfera midiática brasileira, os jogadores de futebol recebem maior atenção em detrimento de outros esportistas.


Existem outros esportes além do futebol


O futebol, assim como outras práticas esportivas, é fundamental não apenas para a mobilidade social, mas também para a socialização e o ensinamento do senso de responsabilidade, disciplina e determinação, por exemplo. Mas, no Brasil, o famoso “país do futebol”, esse esporte está enraizado na cultura, desde o século XIX, quando foi introduzido no território brasileiro, o que muitas vezes ofusca os outros esportes e seus integrantes.


Por exemplo, Felipe Vinícius dos Santos é um decatleta brasileiro, uma modalidade do atletismo que reúne dez provas numa única disputa: 100 metros rasos, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura, 400 metros rasos, 110 metros com barreiras, lançamento de disco, salto com vara, lançamento de dardo e 1.500 metros. Vindo de Guaianases, zona leste de São Paulo, se apaixonou pelo atletismo na escola municipal Juscelino Kubistchek e hoje, além de já ter participado dos Jogos Pan-americanos de Toronto, Canadá, do Campeonato de Atletismo em Pequim, China e das Olimpíadas de Tóquio em 2020, conseguiu a quarta melhor marca do mundo neste mesmo ano olímpico.


O decatleta Felipe dos Santos [Imagem: Reprodução/Instagram]


Já Leila Cássia dos Santos Silva, de 25 anos, é jogadora de rugby e além de ter participado dos Jogos Olímpicos de 2020, conquistou o ouro nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia e a taça da competição Hong Kong Sevens, o que levou a seleção brasileira a ficar entre as 12 melhores equipes do Circuito Mundial. Leila teve uma infância humilde: a atleta cresceu na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, onde teve contato com o rugby e rapidamente adentrou o esporte.


Apesar das diferenças das modalidades praticadas por Felipe e Leila, ambos os atletas têm algo em comum: mesmo com histórias de vida de superação e com grandes conquistas no cenário esportivo mundial, nenhum tem a atenção da mídia e sequer os brasileiros conhecem os seus nomes.


A jogadora de rugby Leila Silva [Imagem: Reprodução/Instagram]


No Brasil, a falta de investimento no esporte não é falta de dinheiro


O esporte de alto rendimento brasileiro, além de ter uma forte cobertura da mídia, tem, em números, bom investimento monetário. Segundo o governo, os recursos federais destinados a esta categoria esportiva, são de 745 milhões de reais por ano, considerando o Bolsa Atleta, a Lei de Incentivo ao Esporte e a Lei das Loterias que destina recursos ao Comitê Olímpico do Brasil (COB). Desta quantia, em 2020, apenas o COB recebeu 292,5 milhões de reais, já o Comitê Paralímpico foi embolsado em 163,1 milhões.

Mas e a base? Enquanto há uma grande quantia de dinheiro destinada aos times e atletas que já estão em altos patamares, no Brasil a estrutura de treinamento é precária e há poucas competições para formar e remunerar esportistas que estão no início de suas carreiras. Segundo a ESPN, metade dos atletas não têm patrocínio, 19% têm menos de R$ 2 mil por mês para praticar o esporte, 7% têm auxílio inferior a um salário mínimo e 10% complementam sua renda com outro emprego.


Contudo, nos últimos anos, com o governo Bolsonaro, até mesmo o esporte de alto rendimento teve quedas em seu investimento, com a extinção do Ministério do Esporte em 2019. Segundo levantamento do projeto Transparência no Esporte da Universidade de Brasília, o investimento federal em atletas brasileiros para os Jogos Olímpicos de Tóquio foi reduzido em 47% quando comparado à verba destinada para o ciclo olímpico anterior: de R$3,2 bilhões, o capital inserido na área caiu para 2 bilhões de reais.

Cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro [Imagem: Reprodução/Instagram]


O talento periférico


O Brasil possui grandes nomes no esporte: do vôlei ao futebol, os brasileiros se espalharam por equipes mundo afora. Um dos maiores exemplos atuais é Vinícius Júnior, que joga em um dos mais renomados times de futebol do mundo: o Real Madrid. De uma família humilde de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, Vini Jr chegou à final da Champions League, o mais conhecido campeonato deste esporte. Mas o que muitos não sabem, ou preferem não acreditar, é que assim como Vinícius, a maioria dos atletas vem da periferia.


Segundo um levantamento feito pela Revista Galileu na Universidade de São Paulo, 90% dos jogadores de futebol eram de classe baixa. Já no handebol, a taxa ficou em torno dos 80% e no vôlei e no basquete, 75%. Isso ocorre, segundo a Revista Galileu, porque em lugares de vulnerabilidade social, como as favelas, as crianças têm uma liberdade de ir e vir imensa. Seja correndo na rua ou soltando pipas, os jovens periféricos acabam aumentando seu repertório motor e tendo maior facilidade nos esportes.

O jogador de futebol Vini Jr [Imagem: Reprodução/Instagram]


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