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Isabella Oliveira

Capítulo 3: As editoras — Série "Literatura periférica na pandemia"

A crise que afetou as grandes empresas do mercado editorial abriu espaço para o surgimento de livrarias e editoras periféricas


Por Isabella Oliveira




Editoras independentes como a Dandara, em São Paulo, e a Luva, no Rio de Janeiro, vêm conquistando espaço com a publicação de autores brasileiros, negros e periféricos. Segundo a pesquisa do Grupo de Estudos em Literatura Contemporânea, da Universidade de Brasília, 97,5% dos autores publicados no Brasil entre 2005 e 2014 eram brancos e 77,9% dos personagens também eram brancos, em sua maioria, pertencentes à classe média.


Diante desse cenário, editoras como a Dandara, focadas na publicação de escritores negros e periféricos exercem uma função necessária. Para Joselicio Junior, diretor editorial da Dandara, “dar visibilidade e relevância para a voz dos subalternizados que fazem contraponto a esses que sempre nos oprimiram é uma ideia de subverter um pouco a lógica e de tentar forçar a construção de uma sociedade melhor, mais justa, mais equilibrada e mais diversa”.


Imagem: [Reprodução/Instagram/Dandara Editora]. Arte: Lara Arruda Paiva.

Além do mais, os livros nacionais publicados pelas grandes editoras e livrarias geralmente pertencem a autores renomados. Em vista disso, iniciativas como a Incubadora de Sonhos, da Luva Editora, tornam-se tão essenciais. Esse projeto financia a publicação de escritores de áreas periféricas e parte dos lucros obtidos é revertido para a publicação de novos autores. De acordo com Vitor Uchôa, criador da Luva, a produção literária periférica “é tão distinta da literatura vendida hoje que pode até mesmo ajudar a acabar com o preconceito que existe contra o autor nacional, pois são histórias mais próximas de nós.”


Imagem: [Reprodução/Instagram/Luva Editora]. Arte: Lara Arruda Paiva.

Ainda para Vitor, a atuação da editora está restrita a cadeia do livro, sendo assim, os feedbacks e o engajamento dos autores são muito importantes. Quando o autor termina de escrever seu livro e deseja publicá-lo, ele o envia para uma editora. Lá a obra é analisada pelo editor, revisada, enviada para a produção gráfica, revisada novamente, finalizada e finalmente encaminhada para a gráfica onde será impressa.


Todo esse extenso processo demanda um custo de produção, que irá refletir no preço final do livro. Atualmente, no Brasil, os livros estão isentos de impostos. Entretanto, a proposta de Reforma Tributária prevê 12% de taxação sobre os livros, ou seja, o encarecimento desse produto.


Com a pandemia de Covid-19, o lançamento e a promoção de livros em eventos tornou-se inviável, impactando negativamente as vendas. Em razão disso, para se manterem funcionando, as editoras periféricas, que dependiam muito da realização desses eventos, tiveram que se adaptar ao mundo online. Nesse novo contexto, instrumentos como o Instagram adquiriram grande importância na divulgação das obras, tanto pelo perfil da própria editora quanto por parcerias com influenciadores digitais literários, além da realização de lives e cursos à distância. De acordo com Joselicio, “hoje sem redes sociais você não existe e sem dúvida elas são um canal essencial de interlocução com o público”.


Em suma, editoras periféricas estão apresentando um crescimento significativo no mercado, além de serem imprescindíveis para a diversificação editorial brasileira.


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