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  • Laura Pereira Lima

Projeto Libras na Quebrada oferece aulas gratuitas nas periferias de São Paulo

Projeto oferece oficinas de libras gratuitamente em regiões periféricas com o intuito de fomentar a inclusão de pessoas surdas Por Laura Pereira Lima


[Imagem: Reprodução/Instagram/@librasnaquebrada]


De acordo com o último censo do IBGE, o Brasil possui cerca de 10 milhões de habitantes com deficiência auditiva, sendo 2,7 milhões deles portadores de surdez profunda; ou seja, escutam pouco ou nada. Com a evolução da tecnologia, alguns se beneficiaram da disponibilização de aparelhos auditivos que amplificam os sons, mas ainda sofrem com a falta de inclusão. A libras surge, então, como principal ferramenta de comunicação para essa parcela tão significativa da população brasileira.


A língua de sinais no Brasil


A Língua Brasileira De Sinais, mais conhecida como libras, é exclusivamente brasileira. Composta por gestos da mão e também por expressões faciais e corporais, a língua é fundamental para a comunicação de pessoas surdas e tornou-se um importante mecanismo de inclusão social. Em 2002, a lei 10.436 estabeleceu a libras como segunda língua oficial do Brasil e tornou-a obrigatória no currículo dos cursos de licenciatura e de fonoaudiologia. Contudo, a libras ainda é pouco dominada pelos brasileiros, que preferem dedicar-se a outros idiomas, como o inglês e o espanhol.


Libras na Quebrada


E foi pensando nas dificuldades enfrentadas pelos surdos no Brasil que Gyanny Vilanova decidiu criar o projeto Libras na Quebrada, que oferece aulas gratuitas em periferias de diferentes regiões da capital paulista. Criado em 2020, o projeto é formado por uma equipe de surdos e ouvintes e oferece aulas na modalidade presencial, híbrida e online.


O projeto Libras na Quebrada sempre busca priorizar os surdos dentro do projeto: "Aprender com o surdo é sempre melhor", comenta Bianca [Imagem: Reprodução/Instagram/@librasnaquebrada]


Gyanny, que é ouvinte, conta que começou a dar aula de libras para não perder o contato com a língua e continuar praticando-a. Dava aula para apenas uma aluna, mas logo percebeu que não era suficiente: "eu precisava ampliar, mostrar para mais pessoas sobre a cultura surda". E assim nascia o projeto Libras na Quebrada. Alguns meses depois, em fevereiro de 2020, Gyanni inaugurou o projeto ao lado de Joyce Lima, surda. Sediado no Casarão da Vila Guilherme, casa de cultura da Zona Norte, o Libras na Quebrada surge com o intuito de ampliar o ensino de libras para a periferia e torná-lo mais acessível.


Adaptação na pandemia


O projeto teve pouco mais de um mês de existência antes da pandemia do coronavírus, em meados de março de 2020. O projeto ficou algum tempo parado, se reestruturando, mas logo retornou às atividades remotamente. Bianca Vinci, intérprete e participante do projeto, comenta que uma das grandes dificuldades do ensino remoto foi a falta de acesso a Wi-fi de qualidade. Como a libras depende da parte visual, dos gestos, a falta de internet por vezes prejudicava a imagem das alunas e dificultava o andamento da aula.


Bianca conta também que Joyce, participante assídua, ficou desligada do projeto durante este período, em parte por causa da qualidade baixa da internet onde vivia. “Eu lembro que no início era difícil até interpretar a Joyce, porque ela já sinaliza muito rápido, com a internet assim então… era um desafio”. Apesar desses empecilhos, a pandemia trouxe vários novos alunos que, frente à falta de atividades no isolamento, se interessaram pelo curso de libras.


O projeto oferece aulas no Casarão da Vila Guilherme (Zona Norte), Centro Cultural Monte Azul (Zona Sul), Teatro Flávio Império (Zona Leste), Movimento Cultural Ermelino Matarazzo (Zona Leste) e Espaço Cultural Literário Fofão Rock´n Bar (Zona Norte) [Imagem: Reprodução/ Instagram/ @librasnaquebrada]



"Você começa a aprender libras, você começa a ver os surdos"


Joyce revela que as principais dificuldades enfrentadas como uma mulher surda são geralmente em bancos, médicos ou na polícia, locais onde não há atendimento acessível para pessoas surdas e as falhas de comunicação podem ser custosas. Ela conta que muitas vezes tem que recorrer à mímica ou até mesmo à escrita, mas, mesmo assim, a comunicação é falha. "A gente precisa chamar um intérprete para ir conosco para não acontecer nenhum erro", relata a jovem.


Outra situação crítica diz respeito à falta de inclusão no mundo do trabalho. Bianca, que também trabalha como intérprete em uma empresa, conta: "Acontece muito isso: a empresa já tem a cultura de ter surdos então às vezes chega a ter 15, 20 surdos trabalhando lá e mesmo assim não tem um intérprete. O intérprete só é chamado na reunião mensal; eles ficam o mês inteiro sem se comunicar e aí vem um intérprete uma vez ali para fazer acessibilidade". Muitas empresas contratam pessoas surdas para preencher as cotas de pessoa com deficiência (PCD), mas não têm qualquer preocupação em criar um ambiente de inclusão, que poderia ser atingido com o oferecimento de aulas de libras para toda a empresa, por exemplo.


Com todas essas adversidades, Joyce alimenta esperanças de que o projeto Libras na Quebrada incentivará o desenvolvimento da libras e propiciará um mundo onde as pessoas surdas possam ser mais incluídas na sociedade brasileira.

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