Instituição localizada na região central de São Paulo já foi responsável por auxiliar milhares de imigrantes no Brasil, população marginalizada no país
Ingrid Gonzaga e Sthefanie Lacerda
A situação de refugiados afegãos acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos tomou os noticiários brasileiros nos últimos meses. Famílias vindas do Afeganistão, ainda sem lugar para ficar no país, acumulam-se no saguão do maior aeroporto da América do Sul. Mas essa situação dramática não é exceção: com frequência, imigrantes e refugiados de diversos países migram para o Brasil, na esperança de encontrar melhores condições de vida por aqui, e deparam-se com a falta de acolhimento.
Acolher: é essa a finalidade da Missão Paz, que fica na rua Glicério, no bairro da Liberdade. Vinculada à Igreja Católica, a instituição em atividade desde a década de 1930 conta com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A atuação da organização segue os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“Temos a casa de acolhida, que é uma unidade que fica ao lado da igreja, com 110 vagas. Os migrantes recebem tudo gratuito: alimentação, atendimento médico e jurídico, assistentes sociais, documentação, inserção no mercado de trabalho, cursos profissionalizantes, curso de português e também salões para que possam se reunir”, explica o coordenador da instituição, o padre Paolo Parise.
Os serviços oferecidos pela Missão Paz estão indicados na recepção da instituição [Imagens: Ingrid Gonzaga/Central Periférica]
Há cerca de duas décadas à frente do acolhimento aos imigrantes, o padre italiano afirma que o perfil dos recebidos pelo projeto mudam conforme a época. Segundo ele, na época do terremoto de 2010 do Haiti, por exemplo — em que cerca de 230 mil pessoas morreram —, os haitianos escolheram o Brasil, que crescia em sua projeção internacional, para se mudar. Naquele momento, eles eram os mais acolhidos pela Missão Paz, e Paolo diz que chegavam a receber 450 imigrantes em um dia. Alguns chegavam com um papel na mão, escrito “Missão Paz - rua Glicério”.
Parise acha importante reforçar que, apesar de 60% da verba do projeto vir da Igreja Católica, não há proselitismo religioso: “nós respeitamos a identidade do outro. Temos o máximo de respeito, independentemente da fé”. Ele conta que são frequentes as festas típicas organizadas pelas comunidades, que tornam-se momentos de reunião e de recordação das próprias raízes.
Paróquia Nossa Senhora da Paz, onde a Missão Paz está localizada [Imagem: Sthefanie Lacerda/Central Periférica]
E ainda que a Missão Paz trabalhe em conjunto com o Estado — como quando ajudaram a desenhar a Lei de Migração de 2017 —, padre Paolo faz críticas às políticas imigratórias atuais do país. “Os atores do governo com quem a gente dialoga agem com retrocesso às vezes, como está acontecendo agora. No âmbito federal é só retrocesso; no municipal é bastante”, opina.
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