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  • Mariana Zancanelli, Ricardo Thomé e Thais Morimoto

+FavelaTV: um projeto pela periferia, com a periferia e para a periferia

Canal de televisão criado em 2022 pretende dar voz a pautas e públicos ignorados pela sociedade e pela grande mídia, além de promover a cultura e o esporte periféricos


Por Mariana Zancanelli, Ricardo Thomé e Thais Morimoto

Gilson Rodrigues (à esquerda), presidente do G10 Favelas e Marx Rodrigues, CEO do Sou+Favela (à direita) são os grandes responsáveis por fazer o +FavelaTV funcionar. [Imagem: Reprodução/Instagram @maisfavelatv_]



O que é o +FavelaTV


Em um prédio localizado em Paraisópolis, a segunda maior comunidade de São Paulo, cerca de 30 profissionais moradores da região trabalham na produção do +Favela TV, um canal de televisão voltado para a periferia. O intuito da emissora é mostrar a realidade do povo e apresentar conteúdos variados que interessem a esse público, passando por temas como empreendedorismo, educação, esportes, música, culinária e muito mais.


O projeto, que é fruto de uma parceria entre a ONG G10 favelas e a Sou+Favela, atualmente é exibido de forma totalmente gratuita na internet. É possível acompanhar a programação ao vivo ou on demand quando os programas são gravados e podem ser acessados a qualquer momento pelos telespectadores na plataforma on-line. Segundo a revista IstoÉ, há negociações em andamentos com canais TVs por assinatura e com emissoras estrangeiras para o licenciamento das produções.


Interface do site do +FavelaTV. [Imagem: Reprodução/+FavelaTV]


A iniciativa foi lançada esse ano e está fresquinha, conforme brinca Mônica Faria, apresentadora do Comida de Favela, um dos programas do canal. A gastrônoma acredita que esse é um “projeto que veio pra ficar” e defende a importância dele para todas as comunidades do Brasil, já que tem por objetivo “dar voz para o povo da favela”.


A rede independente tem recebido cada vez mais reconhecimento, atraindo a atenção de nomes importantes de diferentes áreas. No talk show Gilson Rodrigues Entrevista, o presidente do G10 favelas já conversou com o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), o prefeito da capital paulista Ricardo Nunes (MDB), a empresária Cris Arcangeli, a jornalista Ticiana Villas Boas e a atriz Bruna Mascarenhas, que protagonizou a série Sintonia, da Netflix. Também participou do programa Marx Rodrigues, que é CEO do Sou+Favela, um dos braços fortes do projeto.


A +FavelaTV já conseguiu entrevistas com grandes nomes. Na imagem, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) é entrevistado por Gilson Rodrigues. [Imagem: Reprodução/+FavelaTV]


Levando em consideração esse crescimento do alcance, espera-se que, em até dois anos, 1.500 comunidades do país sejam impactadas pelo projeto. Para isso, a entidade deve investir cerca de R$ 8 milhões no desenvolvimento do canal, segundo dados do Terra.


Uma transformação para as comunidades


“A +Favela TV tem uma importância gigante não só para Paraisópolis, mas para todas as comunidades do Brasil, porque ela veio para mostrar o que é de fato a favela”, afirma Mônica. “Às vezes dizem que nós somos marginais, mas não! [A realidade é que a] favela é marginalizada todos os dias pelo preconceito, pela falta de políticas públicas e pelo descaso”, complementa.


É com essa fala que Mônica aborda sobre a relevância da +Favela TV: mudar a visão que se tem das comunidades brasileiras e ter um conteúdo para os moradores delas. A apresentadora atua em Paraisópolis há quase 13 anos e se interessou pelo projeto logo que ele começou. Além de ser gastrônoma, ela é uma amante da comunicação e viu a +Favela TV como uma oportunidade para “passar um pouco de conhecimento para que as pessoas possam aproveitar melhor o que elas têm em casa e o que elas têm no bolso”.


A emissora se propõe a mostrar o cotidiano das periferias, desmistificando preconceitos. [Imagem: Reprodução/+FavelaTV]


O canal de culinária não foi projetado apenas para compartilhar receitas. A ideia é também fornecer alternativas viáveis de ingredientes e ensinar técnicas de amplo uso. “Quando você dá receita, a pessoa fica limitada; quando você passa uma técnica, ela cria, ela inventa, ela faz o seu próprio produto”, diz Mônica.


Todo o conteúdo da emissora é voltado às periferias, mas não limitado a elas. A apresentadora ainda espera que a +Favela TV cresça quando for mais divulgada. "Os quadros estão sendo gravados e a gente está gradativamente colocando a TV no ar, então, a gente não fez ainda o bonde divulgação que a gente gostaria de fazer”, afirma.


Como é um programa da +FavelaTV


A reportagem da Central Periférica assistiu ao episódio "Chakalaka" do Comida de Favela, programa do +FavelaTV apresentado por Mônica Faria e gravado na Agro Favela Refazenda do G10, em Paraisópolis. De forma didática, gesticulada e pausada, ela apresenta a receita, sua origem (no caso, africana) e os ingredientes, salientando que os pratos ensinados são todos de baixo custo.


Enquanto explica o processo, Mônica prega o cuidado com o meio ambiente. Ela realça a importância de não matar abelhas e outros insetos por sua importância ecológica. Além disso, recomenda a reserva do "lixo", cascas, sementes e a parte indigesta do pimentão, em um recipiente, a fim de não descartá-lo sem necessidade e poder reutilizá-lo de alguma forma.


Mônica consegue equilibrar carisma e didática em suas aparições na +FavelaTV [Imagem: Reprodução/+FavelaTV]


Ao longo do programa, Faria conta que toda cozinha tem como base métodos franceses, e que, junto deles, vêm os termos. “Julienne” (corte de vegetais em tiras finas), “Brunoise” (corte de legumes em cubos pequenos do mesmo tamanho), “Macedoine” (corte de legumes em cubos maiores do mesmo tamanho) são alguns exemplos, e ela faz questão de explicar a importância dos métodos ligados a eles na prática culinária. Não se pode, por exemplo, cozinhar cubos grandes com cubos pequenos ao mesmo tempo, pois os pequenos esquentariam antes e a textura crocante almejada seria perdida.


Após citar exemplos de pratos da culinária africana e de como substituir ingredientes por outros mais acessíveis, Mônica diz que “a gente não joga nada fora. A gente transforma”, como forma de reintroduzir a questão do lixo orgânico. Ela ensina o telespectador a fechar o saco plástico onde se guardam os alimentos (o qual ela apelida de “saquinho do amor”), colocá-lo no congelador e, depois, a fazer a compostagem.

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