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  • Luanne Caires

Entre telas e vírus, a esperança

Atualizado: 30 de nov. de 2020



Desafios e descobertas no ensino online durante a pandemia


Por Luanne Caires


[Imagem: Reprodução/ Pixabay]

Oito meses de pandemia no Brasil. Oito meses em que Helena* deixou a sala de aula e passou a estudar pela tela do computador. No nono ano do Ensino Fundamental, ela se prepara para se despedir da escola que frequenta há quatro anos, em um bairro na zona norte de Ribeirão Preto (SP). Seu dia de estudante ganhou um novo formato. As relações com os amigos também. Na luta que o país trava contra a Covid-19, Helena vê surgir novos vírus: o da saudade da escola e o da falta de motivação. Mas ela também vê na escola o remédio para muitas das angústias deste ano e a esperança no futuro.


Helena estuda à tarde, mas seu despertador toca antes das oito da manhã. Para muitos alunos da rede pública, o dia começa cedo para olhar os irmãos e cuidar da casa enquanto os pais trabalham. Helena é filha única, mas sabe que também precisa cuidar de alguém muito importante nessa pandemia. No caso, ela mesma.


Em um cenário em que 74% dos jovens se sentem tristes, ansiosos ou irritados com o confinamento em casa, Helena encontrou na rotina uma saída para lidar com o sofrimento psicológico. Por isso ela tira o pijama, coloca uma música, faz um exercício físico e se anima para fazer coisas que a deixam feliz e que alimentam seu sonho de entrar na escola técnica no ano que vem.


Mas ela sabe que isso não é simples para todo mundo. Muitos colegas sumiram das aulas online e até dos grupos de Whatsapp da escola. A realidade de alguns desses amigos pode ser a mesma de tantos outros jovens com dificuldades de acompanhar as aulas, principalmente nas periferias. Em 2018, apenas 9% das famílias das classes D e E possuíam computador em casa e só 40% delas tinham acesso à internet no celular.


A desmotivação cresce com o passar do tempo. O que Helena vê em sua turma se repete em muitas outras do Brasil, como um vírus se espalhando entre os estudantes. O Instituto Datafolha já mostrou: 54 em cada 100 alunos estão desmotivados e 65 estão com dificuldade em estabelecer uma rotina de aprendizagem. É ou não é caso de notícia?


O dia segue e, depois do almoço, Helena troca a caminhada até o colégio pelos poucos passos até o computador. Às vezes nem isso, quando o celular é o meio para ver as atividades. Bendito celular que ao mesmo tempo é o portal para o mundo da escola e também fonte de distração. Como resistir à vontade de olhar as redes sociais, ver um vídeo no Youtube ou simplesmente navegar sem rumo na internet?


Helena tenta juntar um pouco dos dois universos em um esquema que ela chama de 10 x 5. Ela estuda por 10 minutos com muita atenção e para por 5 minutos para se distrair, em ciclos que se repetem enquanto a tarde passa. O cansaço dividido em pequenos pedaços parece pesar menos nos ombros ao fim do dia.


Nos momentos de distração, Helena reforça os laços que a pandemia afrouxou. Em mensagens para os amigos, ela mantém as conversas sobre a vida, tão necessárias para sentirmos que não estamos sós. É o momento de compartilhar risadas, dúvidas, tristezas e angústias. Falta o abraço, mas a ternura permanece.


P ermanece também a esperança no conhecimento. Nesses dias de quarentena, Helena encontrou na internet uma forma mais interativa de construir seu saber. Ela pesquisa dúvidas e novidades sobre os temas das aulas e trilha um caminho único rumo ao conhecimento escolar e à descoberta de seus próprios interesses.


Ela mantém também a esperança na escola. Ainda não é possível saber quando a pandemia vai acabar, mas, quando isso acontecer, Helena espera uma escola mais acolhedora, em que professores e alunos se ajudem a recuperar os ânimos e a resgatar os assuntos perdidos na jornada digital. É o momento de aproveitar a oportunidade de estarem juntos e perceber que o conhecimento é importante não só para passar de ano, mas para entender melhor o mundo e construir pontes de diálogo e cuidado.


*Nome alterado para preservar a identidade.

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