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  • Gabriela Lima

Desigualdade na educação brasileira III: a pandemia e o EAD

A dificuldade no acesso à internet pela população mais vulnerável é empecilho para as aulas à distância.


Por Gabriela Lima

Foto por Igor Santos/Secom

Com o fechamento das escolas tanto públicas como privadas devido ao alastramento do Covid-19 em 2020, o EAD (Ensino à Distância) foi a saída encontrada pelas instituições de ensino para compensar a falta da aula presencial. Ainda que tenha permitido uma continuidade dos estudos para os alunos no geral, o EAD escancarou ainda mais a desigualdade no ensino brasileiro. “A experiência de usar educação à distância na pandemia suscitou o debate e promoveu a experiência de utilizar este meio, mas ainda não é parte da realidade da maioria das escolas públicas e privadas”, essa é a análise feita pela Marcele Frossard, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.


Tanto as escolas privadas quanto públicas tiveram dificuldades para colocar o EAD em prática, mas, enquanto as primeiras tinham ferramentas para montar uma infraestrutura, não houve uma ação coordenada entre as escolas municipais, federais e estaduais, segundo Frossard.


A educadora Silvia Gil explica que o governo de São Paulo até desenvolveu um aplicativo para a transmissão de aulas, denominado Centro de Mídias São Paulo (CMSP), e também disponibilizou chips para o acesso à internet. Porém ele não funcionava em todos os bairros e a internet era lenta. “Moramos em uma região afastada dos centros urbanos e as estruturas de recepção de internet pelo celular são bastante desiguais. Quem tinha mais condições optava por adquirir recursos próprios”.


A “exclusão digital” que foi relatada pela professora é uma realidade antiga no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2018 revelou que metade das residências brasileiras não tinha um computador em casa e o acesso à internet era feito, em sua maioria (98,1%), por meio de um aparelho celular. “Utilizar um celular para estudar não é muito confortável, muitas famílias têm um único aparelho para utilização de mais de uma criança/jovem”, complementa a educadora.


A questão nas escolas públicas vai além. Ainda que se tenha os equipamentos necessários para assistir às aulas EAD, Gil conta que falta um preparo dos professores: “na rede privada as atividades digitais já estavam acontecendo e os professores tinham formação”. Os professores públicos, em sua maioria, já não contam com o mesmo auxílio. Ela revela que alguns professores tentaram desenvolver estratégias por conta própria com o auxílio do aplicativo disponibilizado pelo governo. Mas ainda houve muitas dificuldades, segundo Gil, o aplicativo tem falhas constantes.



Estudante interagindo em uma aula a distância [Imagem: Reprodução /Marcelo Camargo/Agência Brasil]

Em ambos os casos, a perda do contato foi um problema gigantesco em meio a tantos outros, mas as instituições não privadas ainda saem perdendo mais nesse cenário. “A escola pública é um espaço intenso de vivências e experiências, é suporte inclusive material/alimentar, local de segurança para deixar os filhos inclusive, e é muitas vezes o único espaço em que se fala de vestibular para famílias não letradas”, diz Gil.


O vestibular é apenas mais uma preocupação para os alunos do ensino médio. O Enem 2021 teve apenas 3,39 milhões de inscritos, o menor número desde 2005, o que mostra que muitos estudantes estão desistindo da chance de entrar em uma faculdade, seja pelas dificuldades econômicas advindas da pandemia, seja pela falta de preparo. Frossard afirma que não sabe mensurar quais serão os impactos do ensino EAD e como isso poderá afetar a educação brasileira, mas os dados certamente apontam para um déficit. “Com certeza os prejuízos são muito grandes, serão necessários anos para recuperar os prejuízos e atrasos. A situação educacional sempre foi desigual no país e a pandemia escancarou coisas que já existiam [...]. A escola pública é um dos poucos espaços de resistência contra as desigualdades e foi profundamente afetada”, finaliza Silvia Gil.


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