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Adrielly Kilryann e Ana Paula Medeiros

Cursinho Popular Paiva: os obstáculos por uma democratização da educação

Projeto formado por universitários dá chance a jovens de escola pública de alcançarem o ensino superior, apesar de dificuldades


Por Adrielly Kilryann e Ana Paula Medeiros


[Imagem: Acervo pessoal]

“A luta por acesso a uma educação pública e de qualidade é um movimento que possui um significado extremamente simbólico para mim. Também vim de uma camada popular e oferecer esse apoio para pessoas que são semelhantes a mim, às minhas vivências e às dificuldades que também passei, é algo que me motiva todos os dias para continuar dentro deste movimento social”.


É assim que Camila Cordeiro, estudante de psicologia da Universidade de São Paulo e secretária do Cursinho Popular Paiva, vê a sua participação no projeto que surgiu em 2016 em Ribeirão Preto. Ele acontece dentro de escolas públicas de comunidades próximas à USP e é aberto a todos que queiram participar. Com a pandemia e o consequente ensino remoto, no entanto, as dificuldades socioeconômicas dos alunos se tornaram ainda mais evidentes. Problemas financeiros, desemprego e, sobretudo, limitações tecnológicas dos alunos exigiram novos esforços dos professores e demais funcionários voluntários.



[Imagem: Acervo pessoal]

Cordeiro conta que o que mais impactou o projeto foi a falta de dinheiro dos alunos para a taxa de inscrição do ENEM e para o deslocamento até o local de prova. Os funcionários então ajudaram os alunos, arcando com os seus custos: “com o caixa do cursinho pode ser feita a compra de cestas básicas para os alunos, pagamento de taxa de inscrição em vestibulares, pagamento do transporte até o local de prova”. “Em casos mais preventivos, fez-se tutorias para a realização da isenção (da taxa de inscrição do ENEM) junto aos alunos, via Google Meet”, complementa.

Dados os obstáculos do ensino remoto, o índice de evasão do cursinho foi alto. Os alunos se dividiram entre assistir às aulas e trabalhar, ajudar nas tarefas domésticas e cuidar da família. Alguns também ficaram vulneráveis pela escassez de internet em casa. “Os que se mantiveram, apresentaram dificuldades como as que foram citadas, mas existem sim alunos, infelizmente a minoria, que conseguiram se manter firmes e focados e até mesmo ingressar na faculdade. Mas demandou muito esforço de todos os pares dentro de nossa entidade”, relata a secretária.

As dificuldades da manutenção do Cursinho Popular Paiva não se limitaram aos estudantes, mas atingiram também os funcionários. Julia Teodoro, estudante de psicologia e coordenadora do cursinho, expõe que a comunicação entre os voluntários ficou comprometida, fator que os desanimou. "A gente se encontrava nas reuniões semanais, mas nem sempre todo mundo ligava a câmera, então eu não sabia muito sobre a pessoa com quem eu compartilhava a área. Encontrava outras pessoas na reunião geral, mas nem sempre conversava diretamente com essa pessoa”, diz.

Apesar dos obstáculos, a importância do projeto, durante o período pré-vestibular de seus estudantes, se fez ainda mais presente. Camila Sousa, vestibulanda de medicina, conta como é ser aluna do cursinho: “o Cursinho Popular Paiva é gratuito, o que é ótimo, pois não tenho condições para pagar um cursinho particular e isso ajuda muito. Também tem vários projetos como o cineclube e o teatro literário, que aliviam a tensão e a pressão de ser um vestibulando”. A jovem ainda relata o que a encoraja a continuar estudando: “o que me motiva é saber que eles (os professores) passaram pela mesma fase que estamos passando e conseguiram a aprovação no vestibular”.



[Imagem: Acervo pessoal]

De acordo com Sousa, o Cursinho Popular Paiva foi essencial para a sua evolução escolar. A estudante, que comemorou suas colocações nos vestibulares de 2020, diz que só foi aprender algumas matérias no cursinho e que o projeto a ajudou a progredir em disciplinas nas quais ela tem mais dificuldade: “graças ao cursinho e aos professores alcancei posições que jamais imaginaria estar”. Os resultados dos alunos, para Teodoro, são o que a motivam a continuar no projeto: “você começa a perceber a sua responsabilidade nesse processo, nesse acesso ao ensino superior, mas muito mais que isso, a construção como uma pessoa responsável, como uma pessoa que quer transformar de algum jeito”.

Para Cordeiro, é gratificante retribuir para a população o investimento que é feito em seus estudos. Segundo ela, a vitória dos alunos é uma vitória coletiva dos membros do projeto, que pretendem expandi-lo a mais pessoas. “O Cursinho Popular Paiva não visa apenas a finalidade única de ingresso no vestibular. Entramos em contato com a realidade de nossos alunos, atuamos dentro das escolas públicas que eles estudam, levamos cinema para a comunidade deles, temos projetos de teatro, criamos vínculos afetivos e nos importamos com eles para além de assinalar questões corretas em um papel”, declara.

Os planos do Cursinho Popular Paiva agora são resgatar os alunos que se prejudicaram com a pandemia, ocupar novamente as escolas públicas próximas à USP e retomar, com segurança, as atividades presenciais.


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