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  • Brenda Fernandes da Silva

Classes sociais dos estudantes da USP vindos de outros estados vão se diversificando

Cada vez mais estudantes de baixa renda de fora do estado de São Paulo se sentem encorajados a tentar a Fuvest. Desafios vão desde o custo de vida na capital paulista até o caráter elitista de alguns cursos.


Desde 2015, quando a Universidade de São Paulo adotou a admissão de estudantes pelo Sistema de Seleção Unificado (SiSU), jovens de todo o Brasil começaram a trazer novos sotaques, expressões idiomáticas, comidas típicas e gostos musicais à instituição paulista. Mas muitos veem as vagas do SiSU como super concorridas - por serem poucas, dependendo do curso, ou pelas notas serem muito altas, ou ambos - e avaliam que seja melhor tentar ir para São Paulo participar do vestibular de admissão da própria USP, a Fuvest. Assim, a adesão ao SiSU também aumentou a quantidade de pessoas de fora tentando a Fuvest.


Antes de 2015, por ser a única porta de entrada, muitos dos que encaravam a viagem à terra da garoa em busca da tão sonhada vaga, eram em sua maioria pessoas das classes privilegiadas que poderiam pagar viagens de avião e cursinhos focados na Fuvest. Mas agora, somado às oportunidades de cotas de renda e raciais, mais pessoas de outros segmentos sociais, inclusive de outros estados, têm sido encorajadas a tentar a Fuvest, inspirados por outros que conseguiram e pelo prestígio que a USP possui no Brasil inteiro.


Bianca Rodrigues, de Cariacica, Espírito Santo, conta que estudar na USP era um sonho dela. “A minha principal motivação para fazer a Fuvest, foi a questão da referência da universidade, principalmente em relação ao curso que eu escolhi que no caso é medicina, e a USP ocupa o primeiro lugar no ranking das melhores faculdades de medicina do Brasil”.


Ela conta que a qualidade do curso e ter uma formação de excelência é um atrativo muito grande, assim como também considera Pedro Henrique, vestibulando também de medicina da cidade do Rio de Janeiro, que sempre viu a USP com uma das universidades mais bem conceituadas da América Latina.


“Desde sempre a mídia e pesquisas, e sites que fazem rankings, botam a USP como a melhor do país ou uma das melhores. Então por influência de alguns outros amigos que iriam fazer a prova, eu acabei decidindo fazer também”.


Bianca e Pedro também contaram um pouco sobre tentar ingressar numa universidade tão tradicional, e em um curso historicamente branco e de classes altas. “Até então eu sempre vi a USP como um ambiente muito elitista, porém, esses dias, eu li uma reportagem que dizia que pela primeira vez, metade dos ingressos da faculdade eram de escola pública, e isso obviamente é consequência direta da ampliação das políticas de cotas, além do fato da USP ter passado a aceitar o ingresso pelo Enem. São alguns fatores que vêm diminuindo esse elitismo”, comenta a estudante capixaba.


Pedro também analisa que o vestibular da Fuvest, por também ser bastante elitista, contribui nisso: “é um nicho bastante específico de estudantes que conseguem cobrir toda matéria”. “Eu acho que isso aqui é bastante importante, que quando eu fui fazer a prova, eu percebi muitos descendentes de imigrantes, vi muitos nipo-brasileiros, muitos do próprio centro de São Paulo. Uma das coisas mais impactantes para mim foi ver uma baixa quantidade de pessoas negras. Na minha sala era um ou outro”.


Outra, e provavelmente a maior preocupação desses estudantes, é o custo da viagem a São Paulo e claro, o custo de morar lá no caso de aprovação, por causa de sua pouca renda. “Como o curso que eu escolhi é integral, é praticamente impossível a possibilidade de se ter um trabalho, logo o meu plano de sobrevivência durante o curso é com base nos auxílios e programas financeiros ofertados pela universidade”, conta Bianca.


“Chega a ser um dos fatores que mais me desmotiva a continuar prestando a Fuvest. Pra me manter eu teria que depender bastante de bicos, tentar utilizar dos meus conhecimentos para dar aula de alguma coisa na internet, trabalhar como freelancer. Eu teria que me virar bastante para ajudar meus pais”, comenta Pedro.


Ambos também analisam o preconceito que por vezes ocorre com pessoas de outros estados. “Tem aquele sentimento de, caramba, você saiu do seu estado pra ocupar a minha vaga aqui”, o carioca afirma. Bianca conta que percebe mais esse preconceito em relação a nordestinos, mas que acredita que as coisas estão mudando e vê no meio universitário, que é muito diverso, uma porta para acabar com esse problema.


Resumindo, mesmo a USP e seu vestibular tendo hoje uma “fama” contraditória de diversificada e inclusiva, mas elitista e rica, aos poucos, com essas novas culturas, além dos importantíssimos auxílios de permanência, pessoas das mais diversas realidades econômicas e sociais podem experimentar esse ensino que é reconhecido no mundo todo.


Repórter: Brenda Fernandes da Silva


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