top of page
  • Ana Mércia Brandão e Elaine Alves

As greves de ônibus e o que há por trás delas

As recentes paralisações no transporte coletivo em São Paulo alertam para uma conjuntura precária que permeia os trabalhadores.


Por Ana Mércia Brandão e Elaine Alves


A cidade de São Paulo se encontrou sem ônibus durante dois dias do mês de junho. Os motoristas e cobradores paralisaram suas atividades pela última vez na quarta, 29 de junho, em busca de melhores condições de trabalho. Entre as reivindicações estavam: reajuste salarial, hora de almoço remunerada, PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e plano de carreira. A greve expôs a existência de motoristas e cobradores em uma precária situação, e passageiros que dependem dos transportes públicos, mas que consideram a paralisação justa.


Imagem de capa/Elaine Alves


Os trabalhadores

Na cidade de São Paulo, são quase 12 milhões de habitantes. Dentre eles, em média, mais de 5 milhões utilizam ônibus públicos, de acordo com dados do Monitor SP. Em contrapartida, a frota de transporte coletivo diminuiu em mil após a pandemia. Com mais pessoas dependentes de um único ônibus, a carga de trabalho dos motoristas e cobradores tende a aumentar. É nesse cenário que a busca por melhores condições de trabalho acontece.

Em entrevista ao Central Periférica, quando perguntado se participou das greves, Eli de Oliveira, motorista há sete anos, respondeu sem hesitação: “Sim, senhora! Porque os nossos salários tão muito defasados. A gente tá perdendo 700 reais e os cobradores 400. Trabalhar de 8 a 9 horas pra perder 700 reais por mê s?!”. A perda de salário citada por Oliveira advém do corte da hora de almoço remunerada acontecida durante a pandemia. Esse foi um dos muitos fatores que aumentou a tensão entre patrões e empregados.

Rafael Fernandes, motorista há mais de 20 anos, cita o descaso das empresas de transporte público com seus funcionários. “A gente ouve falar que vai melhorar mas no fim eles [o sindicato patronal] não fazem o que a gente pede. Eles prometem e não cumprem”.


Os usuários

As greves dos dias 14 e 29 de junho mudaram a rotina não só de motoristas, cobradores e empresários, mas também dos usuários de transporte público, principalmente daqueles que dependem apenas desse meio de locomoção. É comum que, nesses casos, os jornais hegemônicos citem passageiros insatisfeitos com a situação. Entretanto, muitos acreditam na necessidade dessas paralisações.


Com menos ônibus circulando, as paradas ficam lotadas. [Imagem: Reprodução/Twitter]


Maria Fernanda Barros, estudante de jornalismo, é uma dessas pessoas. Mesmo impedida de ir para a universidade por conta das greves, ela afirma: “Acho a greve super justa porque as reivindicações dos motoristas são coisas básicas que já deveriam ser garantidas, como cobrar horário de almoço e reajuste salarial de acordo com a inflação. É o mínimo que eles tem que ter, então tem que fazer greve mesmo, tem que pressionar o sindicato patronal. Acho que prejudica as pessoas que pegam ônibus, mas acho que tem que fazer greve e pressionar pra conseguir os direitos dos trabalhadores, sim. É um dia só!”.

Para Isabela de Camargo, estudante de engenharia metalúrgica, o impacto que as greves têm na população é necessário, apesar de, por vezes, aqueles mais privilegiados não o sentirem. “Fiquei praticamente o dia inteiro aqui [na universidade] sozinha com outras pessoas que vieram porque tinham carro. Então eu acho que impacta bem, acho que é uma forma de mostrar insatisfação que os motoristas e cobradores estavam sentindo, porque realmente para a cidade”.


O SindMotoristas

Apesar do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (SindMotoristas), que é quem organizou as greves, comunicar aos trabalhadores as principais pautas por meio de assembleias, a integração deles com a causa ainda é defasada. Quando questionados sobre a possibilidade de outras greves e sobre pautas mais específicas das que já ocorreram, todos os entrevistados falaram depender apenas do sindicato.


Assembleia ocorrida no dia cinco de julho. [Imagem: Divulgação/SindMotoristas]


“Tem algumas coisas que não fiquei por dentro, porque são coisas do sindicato com o patrão. Muita gente procura não se envolver. Tanto é que o sindicato é pago pra isso, pra resolver esses problemas pra gente”, disse Cléber da Silva, cobrador há seis anos. Ao ser perguntado porque escolheu aderir à greve, Fernandes é sucinto: “Porque o sindicato pediu para todo mundo parar”.

No fim, Cléber mantém o sentimento de revolta: “Acho que é justo todo mundo ganhar aquilo que merece, o povo que trabalha, que rala. Porque as coisas estão aumentando e pra gente também aumenta, a gente também tem que pagar, temos que colocar comida em casa. Se a gente merece um aumento, infelizmente temos que fazer esse tipo de greve até todo mundo ficar contente”.


O SindMotoristas é presidido por Valdevan Noventa (à esquerda), ex-deputado federal atualmente filiado ao Partido Liberal (PL), o mesmo de Jair Bolsonaro. [Imagem: Reprodução/Instagram/@valdevannoventa]

22 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Como a eleição revela aspectos da periferia?

Pesquisas apontam que fatores socioeconômicos e étnico-raciais influenciam na escolha do candidato Por Gabriela Barbosa, Julia Martins, Natalia Tiemi, Tatiana Couto, Leonardo Carmo, Yasmin Andrade e Y

Boulos: Nunes entregou cidade para grandes construtoras

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura da capital paulista, comentou sobre as dificuldades da cidade rumo à eleição do ano que vem Por Gabriel Carvalho O deputado federal Guilherme Boulos, pr

bottom of page