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  • Juliette Ratto

A Parada do Orgulho de São Paulo: quando a intimidade se torna política

Por Juliette Ratto


A 26º Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo aconteceu em 19 de junho. Das 12h às 20h, dezenove carros alegóricos e quase três milhões de pessoas se reuniram na Avenida Paulista. Na música e na dança, o amor em todas as suas formas foi celebrado ao longo do dia, num país onde a LGBTfobia ainda está muito presente.


Imagem: Multidão em frente ao carro alegórico da Amstel, na Avenida Paulista, 19 de Junho de 2022


A Parada, organizado pelo coletivo APOLGBT-SP (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo) e apoiado pelo governo de São Paulo, é considerada a maior do mundo. Após dois anos de interrupção devido à pandemia, o evento há muito esperado pôde finalmente retornar, e foi em grande escala.


Da luta pessoal à luta coletiva


Três milhões de pessoas não é um número pequeno. Isso é equivalente a um quarto dos habitantes de São Paulo. Este contingente reuniu-se para defender o amor e a liberdade, mas não apenas isso. Por detrás desta marcha encontra-se uma mensagem política de tolerância e aceitação. Desde a luta íntima que cada pessoa LGBTQIA+ realiza diariamente face a um mundo que não aceita o que está fora da norma até à luta coletiva por uma sociedade mais igualitária, existe apenas um passo. Cientes da importância de tal luta por um mundo mais justo, muitos aliados da causa também se mobilizaram.


Erica Malunguinho da Silva, deputada estadual de São Paulo e primeira mulher transgênero da Assembleia Legislativa, defende a diversidade como “a lei absoluta da humanidade”. “Estamos aqui para libertar de todo preconceito, estigma. Axé para nós. Façamos uma parada linda, sem violência, muito amor. Nosso povo é capaz disso, fertilizar amor, prosperidade", acrescenta.


A manifestação de 19 de Junho foi um verdadeiro lugar de expressão pessoal e política. A extravagância das roupas e as cores do arco-íris que adornavam a rua misturavam-se com slogans em apoio de Lula e contra Bolsonaro, tendo em vista as eleições presidenciais de Outubro. Motivo segundo os participantes: apoiar Bolsonaro significa opor-se aos direitos LGBTQIA+. Os sinais de reconhecimento entre simpatizantes são fundidos: tanto nos carros alegóricos como na rua, todos os participantes posicionam os seus dedos para formar um L em apoio de Lula.



Imagem: Carro na Parada do Orgulho de São Paulo com o slogan principal: "Vote com orgulho", 19 de Junho de 2022 (Foto: Juliette Ratto)


Reunir as pessoas através de uma oferta cultural de qualidade


Livre e aberta a todos, a Parada do Orgulho oferece um painel cultural e musical de qualidade, convidando celebridades brasileiras nos trios elétricos. Por exemplo, Pabllo Vittar, cantor brasileiro, compositor e drag queen, e Ludmila, a cabeça de cartaz do desfile, estavam presentes, bem como numerosos participantes da reality TV, tais como Thelma Assis ou Ariadna Arantes, a cantora Luiza Sonza, o cantor Matheus Carrilho ou a ativista Thaline Karajá. Todos eles estão empenhados e levam a mesma mensagem de igualdade, entoando o slogan "Vote com Orgulho - por uma política que representa".


A programação qualitativa de cada carro alegórico, enraizada na cultura popular, oferece acessibilidade aos artistas que normalmente atuam em espaços pagos.


A convergência das lutas


No primeiro carro do desfile, a deputada estaduai Isa Penna grita ao público :"Fui assediada na Alesp, tem feminista aqui hoje? É sobre isso. Nossa unidade vai nos fazer vencer. Eles vão ter que nos engolir na política. Mulher não vai voltar pra cozinha, negro não vai voltar pra senzala e LGBTQIA+ não vai voltar para o armário".


De acordo com este discurso, todas as lutas estão ligadas: o lugar das mulheres na sociedade, a igualdade entre negros e brancos, a igualdade socioeconómica, os direitos LGBTQIA+. Não podemos esperar por um mundo melhor enquanto algumas pessoas ficarem de fora, enquanto negarmos os direitos de uma parte da população.


A convergência das lutas retoma o conceito de interseccionalidade teorizada em 1989 pela advogada negra americana Kimberlé Krenshaw, que está intimamente ligado às lutas afrofeministas nos Estados Unidos. A fim de evitar qualquer apropriação da luta, ativistas e pesquisadores em ciências sociais falam da convergência das lutas para expressar uma luta que reúne várias causas, mantendo este princípio conceptual que visa revelar a pluralidade das discriminações de classe, sexo, raça e género e a luta que cada pessoa lidera tanto pessoal como colectivamente.


Através da sua dimensão abertamente política e da sua acessibilidade a todos, a Parada do Orgulho é um exemplo real da concretização desta convergência de lutas, misturando múltiplas exigências e permitindo que todos se sintam representados.

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