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  • Ana Beatriz Ferreira, Eduarda Ventura e Guilherme Bento

A inserção da “Terceira Via” nos debates periféricos

Parte da população da periferia brasileira está fora do debate político sobre possibilidade de uma terceira opção nas eleições presidenciais de 2022


Por Ana Beatriz Ferreira, Eduarda Ventura e Guilherme Bento

[Imagem: Reprodução| Prefeitura de São Paulo]

A chamada “Terceira Via” obteve destaque nos últimos anos no contexto político brasileiro, sendo até mesmo pauta e slogan de candidatos a cargos governamentais. Cercados pela polarização entre ideais, que reina no cenário atual, a população do país encontra-se em uma dualidade crescente entre movimentos de direita e esquerda. Assim, a possível existência de pessoas novas e sem envolvimentos prévios com as burocracias e corrupções, uma opção intermediária entre os dois polos políticos, coloca-se como uma solução tentadora para os eleitores.

Cenário atual


A Terceira Via, no atual contexto brasileiro, sofre com uma descaracterização do seu sentido original — aquele que a define como um movimento social que toma o caminho intermediário entre ideais contrários em uma determinada situação. O termo é usado pela população para definir candidatos que representam uma alternativa entre Jair Bolsonaro (sem partido, com anúncio de filiação ao PL) e Luiz Inácio Lula (PT) para as eleições presidenciais de 2022. A disputa para ser o candidato fora dessa dualidade envolve mais de dez nomes; entre eles Sérgio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (sem partido), e José Luiz Datena (sem partido).


Apesar do grande número de candidatos que se propõe a ocupar essa posição em 2022, nenhum deles apresentou grande intenção de voto entre a população. Pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e pela revista Exame divergem quanto ao candidato que aparece na terceira posição com maior intenção de voto. A somatória do terceiro e do quarto mais bem colocados (Moro e Ciro, em ambas) varia entre 17% e 12%, respectivamente. Enquanto isso, nas mesmas pesquisas, apenas Lula fica com um percentual de 41% a 35% e Bolsonaro com 25%.

Nesse viés, o cientista político e professor titular da Universidade de São Paulo José Augusto Guilhon Albuquerque comenta: “Essa ideia de ter um candidato único é errada, mas se uma terceira via não redundar em candidatos ou candidatas competitivas, ela não se concretiza. Então, esse é o ponto principal — terceira via não é um candidato único, é um movimento, agora, para que esse movimento concorra a uma eleição com alguma chance de sucesso, ele precisa de ter candidatos competitivos.”


Na São Remo


Nos últimos meses, apesar desse assunto marcar presença quase semanal em grandes jornais brasileiros, como Folha de S. Paulo, Estadão e Estado de Minas, sua difusão em meio à sociedade ainda levanta dúvidas, sobretudo em quais camadas esse nível de debate se dissemina.


Na comunidade São Remo, localizada ao lado do maior campus da Universidade de São Paulo, moradores foram entrevistados e questionados sobre a terceira via e a organização política da comunidade. Para uma análise geral sobre a consciência da terceira via, foram entrevistadas pessoas de 20 a 64 anos, entre motoboys, seguranças, professores, estudantes, agentes comunitários e, também, quem tenha caído no atual grande índice de desemprego.


Todos negaram conhecer o movimento político. No entanto, quando o tema foi associado à polarização política no Brasil, a ideia do que a temática poderia abordar levantou palpites. A maioria relatou já ter recebido convites da associação de moradores para participar de encontros que debatem política, porém, somente uma das entrevistadas afirmou ter conseguido comparecer a um desses encontros.


Os encontros são organizados, também, por Givanildo Oliveira dos Santos, um dos líderes da Associação de Moradores. Sobre a terceira via, Givanildo relata conseguir observar uma inclinação da comunidade para este movimento, ainda que não o conheçam pelo nome e críticas sobre ele não sejam feitas. Segundo o líder, os moradores “sabem o que querem” e não pretendem ficar “submissos a nenhum político”. Além disso, estão mais dispostos a procurar uma alternativa que, até então, não enquadra os principais candidatos para 2022.


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