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Emanuely Benjamim

Universidade tem queda da participação de alunos periféricos

Levantamentos da Comvest e da Fuvest indicam queda no número de estudantes da rede pública inscritos para o vestibular 2022 e taxa de evasão de matriculados cresce, contabilizando 3,42 milhões de alunos desistentes na rede privada em 2021


Por Emanuely Benjamim



[Reprodução: Pexels/Olia Danilevich]

O número de matriculados para o vestibular advindos da rede pública de ensino caiu consideravelmente em 2022. De acordo com um levantamento da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp), apenas 30,5% dos estudantes inscritos para o processo seletivo da universidade frequentavam a rede pública de ensino, sendo o menor índice registrado desde 2018. Já o levantado pela Fuvest, organização que realiza a prova de admissão para a Universidade de São Paulo (USP), demonstra um resultado ainda pior, registrando cerca de 21,5% de adesão desses alunos.

Outro dado alarmante é o índice de permanência desses ingressantes nas universidades até a conclusão do período letivo. Segundo dados do Censo da Educação Superior mais recente, divulgado pelo Inep, houve uma queda de 18,8% do número de formandos em faculdades públicas brasileiras. Enquanto isso, em 2021, uma projeção do Semesp (Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação) indicou que cerca de 3,42 milhões de matriculados em instituições privadas desistiram antes da formatura.


O ensino público no Brasil.


Entre as principais causas para tal diminuição no número de inscritos para o processo seletivo, está a má qualidade do ensino público. Segundo Camilla, de 19 anos, que fez o ensino médio em duas escolas públicas de Campinas (SP), o ambiente não se mostrava estimulante para os frequentadores. “Tive um professor de matemática que pegava uma pilha enorme de folha de caderno, entregava pra gente na sala e falava ‘copia do exercício tal até esse. Faz isso para eu corrigir’. Eram só isso as aulas dele”, diz a vestibulanda. “Na época de prova, todo mundo trocava as provas e, quem sabia melhor o assunto fazia. Ele não ensinava, a gente não aprendia, passávamos de ano assim”, ela complementa.


A jovem também assegurou que as instituições não incentivaram a realização dos vestibulares, “Em momento algum falavam de vestibular, não falavam sobre a estrutura da prova. Ninguém falava nisso, era uma coisa extremamente inacessível”. Além disso, ainda conta que não tinha aulas de literatura em sua grade horária, o que impossibilitava aulas sobre as obras cobradas no processo seletivo, e que alguns alunos que buscavam a aprovação se reuniam por conta própria na escola depois do horário para estudarem, sem qualquer professor auxiliando.

Além disso, Camilla, ainda discorre sobre a falta de apoio psicológico das escolas perante os alunos, apontando, inclusive, para a hostilidade de alguns professores diante as crises de ansiedade dos jovens. “Muitas vezes fiquei fora de aula por causa disso, não conseguia voltar”, diz a campineira que, durante o ensino médio, sofreu com ansiedade. “Principalmente na aula de português. Um dia eu estava péssima no corredor da escola, a professora passou olhando e falou ‘É essa a escória’, vendo um aluno tendo crise de ansiedade”, acrescentou ela. Quando questionada se a escola dispunha de algum recurso direcionado à saúde mental, a jovem afirma que, durante certo período, tinha uma mulher a qual eles poderiam recorrer durante suas crises de ansiedade, mas que ela não era psicóloga.


Os obstáculos para permanência na faculdade.


A problemática do psicológico não se restringe, porém, somente ao momento de preparação para o vestibular. Allan, estudante de geografia na Universidade de São Paulo e participante do movimento Juntos!, revela que não existe algo pensado para a saúde mental dos estudantes bolsistas e moradores do Crusp, conjunto residencial da própria universidade. Em 2021, ocorreram quatro casos de suícidio na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sendo que três deles foram de universitários que residiam no Crusp. “Falando um pouco do caso que eu conheço, que era meu colega de curso, ele chegou a procurar a reitoria e outros órgãos institucionais da USP e não foi respondido”, conta o jovem de 21 anos, “É bastante complicada a questão da saúde mental dentro da universidade, tanto pelas questões da graduação quanto da permanência”.


Perguntado sobre as condições do conjunto residencial da universidade, que consiste em uma moradia gratuita para seus estudantes, Allan afirma que ele vem sendo bastante precarizado. Além de não ter uma lavanderia e cozinha, estruturas essenciais para o dia a dia dos moradores, o conjunto também deixa a desejar no que diz respeito à segurança dos residentes pois alguns prédios não apresentam saída de incêndio. “Sobre a questão da cozinha: muitos estudantes, por não ter onde cozinhar, acabam por comprar fogão elétrico, o que teoricamente não pode porque sobrecarrega o sistema elétrico do Crusp mas, como a SAS (Superintendência de Assistência Social), que administra as bolsas de permanência, não oferece uma alternativa, as pessoas acabam instalando esses equipamentos nos apartamentos. Então tem prédios com risco de incêndio”, diz o universitário.


Durante esses dois últimos anos pandêmicos, a Universidade de São Paulo apresentou uma elevação notável do índice de evasão. “Durante a pandemia, muitos estudantes trancaram o curso, foi o recorde de abandono de curso”, relata o participante do Juntos!. Tal evento se relaciona, principalmente, à dificuldade dos alunos de permanecerem na universidade enquanto as aulas presenciais foram suspensas, dado que muitos tiveram que trabalhar para se sustentar, não conseguindo dar continuidade aos estudos. “Grande parte desses alunos que evadem, que abandonam o curso, são os que enfrentam dificuldades para permanecer na universidade”, finaliza ele.



Bloco G do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo [Imagem: Emanuely Benjamim]



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