Território de disputa eleitoral, periferia se posiciona de maneira mais politizada e potente, mas também desesperançosa em relação às eleições
Por Júlia Galvão, Luana Takahashi e Mariana Rossi
[Imagem: Arquivo Pessoal/ Luana Takahashi]
Com a aproximação das eleições, 2 de outubro, pós pandemia da COVID-19, os candidatos retornaram às ruas para suas campanhas eleitorais como parte do jogo político. Em bairros periféricos, a promoção de comícios incluindo cenas de políticos comendo pastel, conversando com a população e fazendo promessas, voltam a ser frequentes. “A gente não é besta, cada vez mais temos maior acesso à informação. A gente precisa abrir nossos olhos e parar de fazer vista grossa’’, diz Giovana Santana, 26, moradora do Grajaú, que entende a simples visita como ação superficial.
Aos políticos que parecem enxergar a periferia como massa de manobra e bloco homogêneo, Ana Lúcia Silva Souza, doutora em Linguística Aplicada, mestra em Ciências Sociais e ativista explica que ‘’de alguns anos para cá, a gente tem uma periferia mais antenada em relação ao processo político’’. Exemplo disso são os mandatos coletivos: “Esses mandatos são os passos para buscar espaço que não existe dentro das estruturas partidárias tradicionais e também para que os periféricos sejam representados dentro de sua pluralidade’’, diz Marcos Agostinho, sociólogo e cientista político. Para além de momentos eleitorais, ele defende que exista espaço de escuta para aqueles que não são ouvidos.
A pluralidade aparece nas diferentes maneiras de se manifestar politicamente, até mesmo a abstenção surge como forma de expressar a falta de representatividade e o descontentamento com a política. ‘’Eu só voto nulo, não me agrada o cenário atual, então eu prefiro me abster”, confessa Lucas Souza, que reside no Parque Residencial Cocaia.
Por outro lado, o nulo também pode ser reflexo do distanciamento entre cidadão e o debate político. O cientista político analisa que no processo histórico de política nacional, o voto era permitido apenas para quem tinha posse de estudo e poder aquisitivo. “Está muito preso dentro da universidade esse discurso, não chega nas grandes massas. Fui jogar boliche com alguns amigos esses dias e ninguém está nem aí. É uma coisa que tá muito concentrada ainda, dentro da bolha”, pontua Alessandro Davi, estudante da USP e morador do Grajaú. Após décadas, esse cenário persiste na realidade brasileira, “Eu trabalho 24 horas por dia, então deixo quem se especifica no assunto que vote’’, confessa Aline Alves, também moradora do Grajaú.
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