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Guilherme Castro Sousa

O racismo no futebol e um caminho para superação

O recorde de casos de racismo no futebol em 2022 levanta novamente um debate que é recorrente na sociedade brasileira. Mas o que pode ser feito para quebrar esse ciclo?

por Guilherme Castro Sousa

Foto de Capa: Final do Paulistão 2017 [Imagem: Anderson Bueno Pereira/ commons.wikimedia.org]


No final do mês de abril um torcedor do Boca Juniors foi detido por fazer gestos racistas em direção à torcida do Corinthians, no dia seguinte após pagar fiança debochou da detenção. No dia 8 do mês seguinte, Fellipe Bastos, volante do Goiás, se revoltou ao ser chamado de “macaco” por um torcedor do Atlético-GO. No dia 14, Edenilson, do Internacional, denunciou o lateral Rafael Ramos, do Corinthians, que o teria chamado de “macaco”.

Apesar do avanço do debate nacional sobre o tema do racismo e os avanços legislativos, observa-se no futebol um aumento no número de casos de racismo neste ano. A recorrência desses crimes levanta certas perguntas: são campanhas de conscientização suficientes? Não seriam necessárias medidas punitivas mais severas para coibir esse tipo de ação?

Para o professor Neilton Ferreira Júnior, que estudou o racismo no esporte em seu doutorado na Escola de Educação Física da USP, este problema vai além dos casos isolados e se relaciona na maneira como o esporte está estruturado no Brasil: “a forma como o esporte, o futebol, está configurado hoje, não oferece possibilidade de relação baseadas no reconhecimento, uma vez que esse fenômeno, que chamamos de popular está completamente entregue a sociedade concorrencial e capitalista”. Por isso, o professor conclui que “esse tipo de relação permite a instrumentalização do racismo, podendo reduzir o outro a um animal como estratégia de vitória.” Ele diz que, nesse cenário, o jogador não é visto como uma pessoa e sim mercadoria.

A mercantilização do futebol


Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950 [Imagem: Arquivo Nacional/ jenikirbyhistory.getarchive.net]


Para Ferreira Junior, a própria relação do esporte com a mídia não permite o aprofundamento do debate sobre o racismo. “O que temos hoje são fragmentos, você tem um conjunto de notas de repúdio, campanhas publicitárias, que fornecem uma interpretação particular de como as instituições encaram o problema, bastante superficiais e descompromissadas com a eliminação sistêmica do racismo conforme nos orientam os movimentos negros.” Apesar de considerar a conscientização fundamental e importante, o professor comenta que a ação limitada das instituições pode ser interpretada como uma “gestão da barbárie”, já que se preocupa principalmente em administrar o problema em vez de superá-lo.

Com a quantidade de casos recentes muitas vozes no esporte sugerem punições mais severas para atos de racismo. Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), diz ser a favor da perda de pontos dos times cujas torcidas cometerem tais ações e defende a suspensão de no mínimo um ano para os jogadores caso seja caracterizada uma atitude racista. No entanto para o professor Ferreira essas ações punitivas seguem uma lógica de mercado e podem não ser efetivas no combate ao racismo: “o que esse antirracismo punitivo sugere é uma espécie de higienização do espetáculo, para que ele se torne minimamente transparente, para que as relações, que hoje não atendem apenas a um gozo popular, atendam especificações do mercado”. Desse modo, para o professor “essas ações punitivas são importantes porém não apresentam um reforço na realidade histórica para que eles se estabeleçam.”

Na visão de Ferreira Júnior para a transformação desse cenário, é necessário a reaproximação da sociedade ao esporte. Com o desenvolvimento do futebol no país houve um distanciamento das massas e se estabeleceu uma relação de consumidor e mercadoria. A falta de democracia das instituições esportivas intensifica esse afastamento. “O que a gente precisa fazer é democratizar radicalmente o acesso ao debate sobre os destinos do futebol", “não acho que a democratização radical vai eliminar o racismo, mas sem ela não há caminho que leve a uma superação estrutural.”


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