O impacto da pandemia no comércio das comunidades
Comerciantes enfrentam dificuldades mesmo com auxílio e tentam se adaptar com segurança
Por Juliana Alves e Júlia Rodrigues
Comerciantes de comunidades enfrentam crise em seus negócios devido à pandemia. Cerca de 70% das pequenas empresas reportaram redução de vendas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os proprietários contam como encararam as dificuldades durante o período de isolamento e como estão as vendas com o fim do decreto. O auxílio emergencial do governo, as adaptações segundo protocolos de saúde e o comportamento dos clientes são os principais impactos no setor.
Em março, o estado de São Paulo decretou o fechamento do comércio e serviços não essenciais. Por meses, os comerciantes passaram e ainda passam por obstáculos, principalmente, financeiros. Miriam Aparecida, dona de um pet shop na cidade de Guaíra, conta que embora o preço dos produtos tenha aumentado, o valor do serviço foi mantido para não perder os clientes.
Ana Paula Claudino, dona de uma mercearia na mesma cidade, afirma que enfrentou a falta e o aumento dos preços de mercadorias, pois os fornecedores não podiam realizar entregas e muitas fábricas fecharam. Os funcionários também foram atingidos, a comerciante explica que teve que demitir uma funcionária já que diminuiu o tempo de funcionamento do estabelecimento.
Priscila Fernandes, que possui uma loja de roupas em Santos, também teve que se adaptar à crise. “Tive que mudar a forma de pagamento: aumentei o valor e a quantidade das parcelas. Aumentei também o preço das roupas, cada peça aumentou cerca de cinco reais”. Apesar de relatar dívidas, Priscila conseguiu sustentar o aluguel com o auxílio emergencial do governo federal. Ela acredita que essa ajuda também valeu para os seus clientes: “devido ao auxílio muitos clientes não ficaram devendo, ao meu ver é com dinheiro do auxílio que me pagam”.
“O auxílio foi fundamental para o comércio como um todo, inclusive o local”, afirma a economista Danielle Nascimento, da Oppen Social (Oportunidades Pesquisa e Estudos Sociais). Segundo ela, as pessoas que tiveram acesso ao benefício são de baixa renda e isso deu a elas um período de subsistência, minimizando os efeitos da pandemia.
Devido ao fim do benefício, previsto para janeiro de 2021, a economista observa a necessidade da retomada do mercado de trabalho.
“Se não houver a realocação das pessoas no mercado de trabalho, o Brasil irá notar mais os efeitos da perda de emprego e renda das famílias'', analisa Danielle.
Com as portas fechadas em função da quarentena, os estabelecimentos tiveram que investir em novas maneiras de assegurar o fluxo de vendas e, assim, minimizar os prejuízos. Segundo pesquisa da Exame, só no aplicativo iFood, os restaurantes pequenos registraram, de março a agosto, um aumento de 44% no número de vendas. Tais dados demonstram como o uso de delivery auxiliou na manutenção dos lucros dos estabelecimentos, principalmente no ramo alimentício.
Para alguns comerciantes, no entanto, a adesão ao sistema de entregas por delivery não foi possível e, nesse caso, as redes sociais foram as responsáveis por impulsionar os negócios. Ana Paula afirma que as postagens nas redes sociais foram ótimos meios para propaganda: “sempre que tem mercadoria, sempre que tem promoção, a gente publica nas redes sociais. [É] muito bom, ajuda bastante mesmo”
A partir da segunda metade do ano, a diminuição dos casos de Covid-19 possibilitou a reabertura dos estabelecimentos comerciais na capital e no resto do estado. Para aqueles que somente funcionaram em período reduzido durante a quarentena, as medidas de segurança foram necessárias para o controle do avanço da pandemia.
No pet shop de Miriam, além do uso obrigatório de máscara e álcool em gel para funcionários e clientes, o distanciamento social foi prezado, com circulação de no máximo três pessoas por vez dentro da loja: “quando não orientamos com uso de panfleto fixado na entrada da loja, advertimos também verbalmente ‘com jeito’ para não inibir e evitar constrangimentos”. Priscila, que teve que fechar a loja de março a junho, comenta que, afora as medidas básicas de segurança, a prova de peças de cima não é permitida devido ao contato com o rosto do cliente.
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