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O dia a dia dos “marreteiros” do metrô de SP

Vendedores ambulantes da linha 3 - vermelha contam suas rotinas e experiências na profissão.


Joyce Tenório e Camila Sales Machado


Reprodução/Wikimedia Commons


Não é necessário passar muito tempo andando pelos trens e metrôs de São Paulo para encontrar as características figuras, carregando mochilas e sacolas cheias, anunciando seus produtos para o vagão. Em uma segunda-feira de outubro, antes do horário de pico, alguns dos chamados “marreteiros” relatam um pouco sobre a vida percorrendo os trens e metrôs da cidade, de segunda a sábado, sempre se adaptando e evitando os guardas a todo custo.


A linha Vermelha do metrô atende principalmente a Zona Leste paulistana, e a maioria dos vendedores ambulantes que circulam por ela também são de lá. Além de facilitar a ida e volta para casa, o volume de passageiros também conta. É como comenta Bruno*, um dos entrevistados: “Em time que ‘tá ganhando, não se mexe. Se nessa linha ‘tá rendendo bem, eu não vou pra outra, não”.


Porém, nem sempre as linhas do metrô foram o ponto de referência para os vendedores. Até pouco tempo atrás, o maior volume de vendas se concentrava nos trens da CPTM. Entretanto, a ação dos guardas se intensificou por lá e muitos se viram forçados a migrar para outras linhas. “A gente sempre tem que mudar: eles apertam um pouco lá, a gente vem pra cá; eles apertam aqui, a gente corre pra lá”, relata Bruno.


Isso inclusive ajuda a responder uma dúvida que talvez já tenha passado pela cabeça de quem frequenta os trens da capital: para onde foram os vendedores de pururuca, o salgadinho sabor torresmo? Mário Sergio, outro entrevistado, explica: “Eles eram muito comuns na CPTM, né? Mas lá o cerco fechou, então muitos vendedores vieram para o metrô. Aí mudaram a mercadoria, porque isso é mercadoria de trem, mais ‘periférica’. Aqui no metrô é um público diferente.”


Ao longo de todos os depoimentos recolhidos, a relação com os guardas das estações era um ponto crucial sempre citado. A venda de produtos nos vagões é proibida por lei e, sendo assim, cabe aos vigias fiscalizar e apreender as mercadorias. Os conflitos são constantes, de modo que os ambulantes precisam desenvolver táticas para evitar os encontros. Walmir Justino, que atua na profissão há sete anos, afirma que entre alguns dos marreteiros existe um grupo de WhatsApp e que eles se comunicam por rádio, acompanhando a presença dos vigilantes e também o fluxo de clientes.


Mesmo assim, as apreensões são recorrentes e muitas vezes ocorrem de forma violenta. Bruno relata que foi agredido por dois guardas no seu primeiro dia, após entregar as mercadorias e sair do vagão. “Quando eu fui subir as escadas, eles já começaram a me agarrar, dando mata-leão e socos. Me machucaram tanto que eu não consegui ir trabalhar por uma semana”. Segundo ele, os vigias que o espancaram são conhecidos pelos marreteiros por esse tipo de comportamento. O vendedor também conta que alguns entram nos trens vestidos de passageiros comuns para tentar pegar os ambulantes de surpresa. Diante disso, ele lança um questionamento: “Eu queria saber por que eles não se disfarçam pra pegar o cara que rouba celular?”


*O vendedor pediu para não ser identificado, então foi adotado um apelido fictício


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