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Guilherme Gama e Julya Mantuani

Pré-vestibular popular na pandemia

Atualizado: 30 de nov. de 2020

Cursinho popular em Jundiaí enfrenta os desafios da democratização do ensino na pandemia


“Se tiver um aluno, tem Chico Poço ainda”. Entre à pandemia e à aproximação dos vestibulares, a visão dos professores, alunos e coordenadores do Chico Poço sobre o ensino à distância


Por Guilherme Gama e Julya Mantuani

[Foto: Juliana Matias]

Os principais vestibulares para ingresso nas universidades públicas e privadas no Brasil estariam ocorrendo neste período do ano. Porém, após a pandemia do coronavírus e, por consequência, os novos desafios da educação à distância, as provas foram adiadas. A conquista da vaga para o ensino superior se tornou uma dificuldade ainda maior para a população menos privilegiada do país, que conta com iniciativas independentes e ações afirmativas para se preparar para os exames.


Na cidade de Jundiaí, a ONG Cursinho Professor Chico Poço (CP²) luta há mais de 13 anos pela democratização do acesso ao ensino preparatório para o vestibular. A instituição proporciona gratuitamente, aulas, instalações e materiais didáticos para cerca de 120 jovens em situação de vulnerabilidade social.


Entretanto, no contexto da pandemia, o cursinho e seus alunos sofreram a paralisação das atividades presenciais e reformulação do ensino. Segundo Giovanna Ermani, coordenadora da organização, foi um desafio continuar com as aulas, mas, após ajustes sugeridos pelos alunos, os estudos se consolidaram no modo EaD. Ela explica que, de início, as aulas eram ao vivo e através de diferentes plataformas on-line.


Por conta da conexão fraca, a maior parte dos estudantes recebia com atrasos a transmissão simultânea e enfrentavam lentidão ao acessar as inúmeras ferramentas. A reivindicação foi ouvida pela coordenação que passou a gravar as aulas e disponibilizá-las somente em uma plataforma.


Bianca Alves é aluna do cursinho popular pelo segundo ano e conta que está se esforçando mais do que o normal, nessa circunstância, mesmo com o desânimo de estudar em casa. “Fiquei um tempo sem abrir o material e atrasei muito os estudos. Estou desacumulando agora. É desanimador e o ambiente da sala de aula faz muita falta”, completa. A estudante concorre às vagas de enfermagem e aguarda os vestibulares da Unicamp e USP que terão suas primeiras fases em 6 e 10 de Janeiro, respectivamente.


Ermani destaca a parceria do cursinho com o “Descomplica”, plataforma on-line de preparação ao vestibular que atua em um projeto social na quarentena. Assim, foi disponibilizado aos alunos o acesso às videoaulas da plataforma que é paga.

“Deu uma boa renovada de gás nos alunos”, afirma.

Mas, para o Vitor Zampa, professor de física no CP², nada substitui o presencial, o “olho no olho” é crucial para uma aula. “Eu muitas vezes me baseio na expressão dos alunos para ter uma noção do quanto eles estão acompanhando o raciocínio. Numa aula online, em que muitos alunos sequer têm a possibilidade de utilizar uma câmera (seja por falta de equipamento, seja pela conexão), essa forma de interação se perde por completo. Os alunos tornam-se muito mais hesitantes em manifestar dúvidas no ambiente online, o que pode também prejudicar o processo de aprendizado“, conclui Zampa.


O ponto mais preocupante é pensar a respeito do número de desistências que a conjuntura atual acarretou. Ermani traz números preocupantes: “A nossa média de acompanhamento agora, é de 10 estudantes e nós tínhamos 120 alunos em janeiro”, mas a docente reforça: “se tiver um aluno, tem Chico Poço ainda”.


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